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shouldbefree.html (50951B)


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     15 <title>Por que o Software Deveria Ser Livre - Projeto GNU - Free Software
     16 Foundation</title>
     17 <style type="text/css" media="print,screen"><!--
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     20 
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     29 <div class="article reduced-width">
     30 <h2>Por que o Software Deveria Ser Livre</h2>
     31 
     32 <address class="byline">por <a href="http://www.stallman.org/">Richard Stallman</a></address>
     33 
     34 <p  id="introduction">
     35 A existência do software inevitavelmente levanta questões a respeito de como
     36 deveria ser feito seu uso. Por exemplo, suponha que um indivíduo que tem uma
     37 cópia de um programa se encontre com outro que gostaria de ter uma cópia. É
     38 possível a eles copiar o programa; quem deveria decidir se isto deve ser
     39 feito ou não? Os indivíduos envolvidos? Ou outra parte, chamada de “o dono”?</p>
     40 <p>
     41    Desenvolvedores de software tipicamente consideram estas questões assumindo
     42 que o critério para a resposta seja maximizar os lucros dos
     43 desenvolvedores. A força política do negócio tem levado à adoção, por parte
     44 do governo, tanto deste critério quanto da resposta proposta pelos
     45 desenvolvedores: o programa tem um dono, tipicamente uma empresa associada
     46 ao seu desenvolvimento.</p>
     47 <p>
     48    Eu gostaria de considerar a mesma questão usando um critério diferente: a
     49 prosperidade e liberdade do público em geral.</p>
     50 <p>
     51    Esta resposta não pode ser dada pela lei atual — a lei deveria agir em
     52 conformidade com a ética, não o contrário. Nem a prática comum decide esta
     53 questão, apesar de sugerir respostas possíveis. A única maneira de julgar é
     54 ver quem é beneficiado e quem é prejudicado pelo reconhecimento dos donos de
     55 software, porque, e quanto. Em outras palavras, nós deveríamos fazer uma
     56 análise de custo-benefício tomando por base a sociedade como um todo,
     57 levando em conta a liberdade individual bem como a produção de bens
     58 materiais.</p>
     59 <p>
     60    Neste ensaio, eu irei descrever os efeitos de ter donos e mostrarei que os
     61 resultados são malignos. Minha conclusão é que programadores têm a
     62 responsabilidade de encorajar outros a compartilhar, redistribuir, estudar e
     63 melhorar o software que nós escrevemos: em outras palavras, escrever <a
     64 href="/philosophy/free-sw.html">software “livre”</a>.<a href="#f1">(1)</a></p>
     65 
     66 <h3 id="owner-justification">Como os Donos Justificam Seu Poder</h3>
     67 <p>
     68    Aqueles que se beneficiam do sistema atual onde programas são propriedade
     69 oferecem dois argumentos em suporte à suas reivindicações: o argumento
     70 emocional e o econômico.</p>
     71 <p>
     72    O argumento emocional é mais ou menos assim: “Eu coloquei meu suor, meu
     73 coração, minha alma neste programa. Ele veio de <em>mim</em>, é
     74 <em>meu</em>!”</p>
     75 <p>
     76    Este argumento não requer uma refutação pesada. O sentimento de ligação pode
     77 ser cultivado pelos programadores quando lhes convém; não é
     78 inevitável. Considere, por exemplo, quão sinceramente os mesmos
     79 programadores transferem todos os seus direitos à uma grande empresa em
     80 troca de um salário; a ligação emocional misteriosamente
     81 desaparece. Contrastando, considere os grandes artistas e artesãos dos
     82 tempos medievais, que nem mesmo assinavam seus nomes na sua obra. Para eles,
     83 o nome do artista não era importante. O que importava era que o trabalho
     84 havia sido feito — e o propósito ao qual ele serviria. Esta concepção
     85 prevaleceu durante séculos.</p>
     86 <p>
     87    O argumento econômico se parece com: “Eu quero ficar rico (que via de regra
     88 é descrito imprecisamente como &lsquo;ganhar a vida&rsquo;), e se você não
     89 me permitir ficar rico programando, então eu não vou programar. Todos os
     90 outros são como eu, sendo assim ninguém mais vai programar. E então você vai
     91 acabar ficando sem programas!” Esta ameaça é normalmente velada, como um
     92 conselho de amigo.</p>
     93 <p>
     94    Depois eu irei explicar que esta ameaça é um blefe. Primeiro eu quero focar
     95 uma concepção que é mais visível em outra formulação do argumento.</p>
     96 <p>
     97    Esta formulação começa comparando a utilidade social de um programa
     98 privativo versus a da inexistência deste programa, e então conclui que o
     99 desenvolvimento de software privativo é, no todo, benéfico e deveria ser
    100 encorajado. A falácia aqui está em comparar apenas dois pontos — software
    101 privativo versus inexistência do software — e assumir que não existem outras
    102 possibilidades.</p>
    103 <p>
    104    Dado um sistema de copyright sobre programas, o desenvolvimento de software
    105 comumente está ligado à existência de um dono que controla o uso do
    106 software. Enquanto existe esta ligação, nós frequentemente nos deparamos com
    107 a opção entre software privativo ou nada. No entanto, esta ligação não é
    108 natural ou inevitável; é uma consequência da escolha da política sócio-legal
    109 que nós estamos questionando: a decisão de ter donos. Formular a opção como
    110 sendo entre software privativo versus software inexistente é desvirtuar a
    111 questão.</p>
    112 
    113 <h3 id="against-having-owners">O Argumento Contra Ter Donos</h3>
    114 <p>
    115    A questão é: “O desenvolvimento de software deveria ser ligado a ter donos
    116 para restringir sua utilização?”</p>
    117 <p>
    118    Para que nós possamos escolher, temos que julgar o efeito na sociedade de
    119 cada uma destas duas atividades <em>independentemente</em>: o efeito de
    120 desenvolver software (sem levar em consideração seus termos de
    121 distribuição), e o efeito de restringir sua utilização (assumindo que o
    122 software tenha sido desenvolvido). Se uma destas atividades ajuda e a outra
    123 atrapalha, nós estaríamos melhor descartando esta ligação e fazendo apenas a
    124 atividade que ajuda.</p>
    125 <p>
    126    Colocando em outras palavras, se a restrição da distribuição de um programa
    127 já desenvolvido é prejudicial à sociedade como um todo, então um
    128 desenvolvedor ético irá rejeitar a opção de trabalhar deste modo.</p>
    129 <p>
    130    Para determinar o efeito de restringir o compartilhamento, nós precisamos
    131 comparar o valor para a sociedade de um programa restrito (por exemplo,
    132 privativo) com o valor do mesmo programa, disponível para todos. Isto
    133 significa comparar dois mundos possíveis.</p>
    134 <p>
    135    Esta análise também leva em consideração o contra-argumento feito às vezes
    136 que “o benefício ao próximo de lhe dar uma cópia de um programa é cancelado
    137 pelo dano feito ao dono.” Este contra-argumento assume que o dano e o
    138 benefício são de igual grandeza. A análise envolve comparar estas duas
    139 grandezas, e mostra que os benefícios são muito maiores.</p>
    140 <p>
    141    Para elucidar este argumento, vamos aplicá-lo a outra área: construção de
    142 vias públicas.</p>
    143 <p>
    144    Seria possível financiar a construção de todas as vias com pedágios. Isto
    145 iria exigir que houvesse postos de cobrança de pedágio em todas as
    146 esquinas. Tal sistema produziria um grande incentivo para melhorar as
    147 estradas. Teria também a virtude de fazer com que os usuários de qualquer
    148 estrada pagassem por ela. No entanto, um posto de cobrança de pedágio é um
    149 obstáculo artificial à condução suave de um veículo — artificial porque não
    150 é uma consequência de como estradas ou carros funcionam.</p>
    151 <p>
    152    Comparando a utilidade das estradas gratuitas com a utilidade das estradas
    153 onde há cobrança de pedágio, nós concluímos que (sendo igual todo o
    154 restante) estradas sem pedágio são mais baratas de construir, mais baratas
    155 para se usar, mais seguras e mais eficientes.<a href="#f2">(2)</a> Em uma
    156 nação pobre, pedágios podem tornar as estradas proibitivas para muitos
    157 cidadãos. As estradas sem pedágio oferecem assim mais benefícios à sociedade
    158 a um custo menor; elas são preferíveis para a sociedade. Sendo assim, a
    159 sociedade deveria se decidir por financiar as estradas de outra maneira, e
    160 não por meio de pedágio. O uso das estradas, uma vez construídas, deveria
    161 ser gratuito.</p>
    162 <p>
    163    Quando os defensores dos pedágios os propõem <em>meramente</em> como um modo
    164 de levantar fundos, eles distorcem a opção que é disponível. Pedágios
    165 arrecadam fundos, mas eles fazem algo além disso: em efeito, eles degradam a
    166 estrada, no sentido de que a estrada com pedágio não é tão boa quanto a
    167 gratuita; nos fornecer estradas em maior quantidade ou tecnicamente
    168 superiores pode não ser uma melhoria se isto significa substituir as vias
    169 gratuitas pelas vias com pedágio.</p>
    170 <p>
    171    É claro que a construção de uma estrada sem pedágio custa dinheiro, que o
    172 público deve pagar de algum modo. No entanto, isto não implica
    173 necessariamente na existência de postos de pedágio. Nós, que em qualquer dos
    174 casos estaremos pagando, faremos melhor negócio adquirindo uma estrada livre
    175 de pedágio.</p>
    176 <p>
    177    Eu não estou aqui dizendo que uma estrada com pedágio é pior que ficar sem
    178 estrada. Isto seria verdade se a tarifa fosse tão alta que dificilmente
    179 alguém usasse a estrada — mas isto é uma política pouco provável para um
    180 arrecadador de impostos. No entanto, uma vez que os pedágios causem um
    181 desperdício e inconveniência significativos, é melhor levantar fundos de um
    182 modo menos perturbador.</p>
    183 <p>
    184    Para aplicar o mesmo argumento ao desenvolvimento de software, eu irei agora
    185 mostrar que ter “pedágios” para programas úteis custa diariamente à
    186 sociedade: torna os programas mais caros para construir, mais caros para
    187 distribuir, e menos satisfatórios e eficientes para se usar. Segue que a
    188 construção de programas deveria ser encorajada de algum outro modo. Então eu
    189 irei explicar outros métodos de estímulo e (à medida do realmente
    190 necessário) financiamento para o desenvolvimento de software.</p>
    191 
    192 <h4 id="harm-done">O Dano Causado por Software Obstruído</h4>
    193 <p>
    194    Considere por um momento que um programa tenha sido desenvolvido, e que
    195 qualquer pagamentos necessários para seu desenvolvimento já tenham sido
    196 feitos; agora a sociedade tem que decidir se deve torná-lo privativo ou se
    197 deve permitir seu livre uso e compartilhamento. Assuma que é desejável que o
    198 programa exista e que esteja disponível.<a href="#f3">(3)</a></p>
    199 <p>
    200    Restrições na distribuição e modificação do programa não podem facilitar seu
    201 uso. Só podem interferir. Sendo assim o efeito só pode ser negativo. Mas
    202 quão negativo? E de que modo?</p>
    203 <p>
    204    Três níveis diferentes de danos materiais se originam desta obstrução:</p>
    205 
    206 <ul>
    207 <li>Menos pessoas usam o programa.</li>
    208 
    209 <li>Nenhum dos usuários pode adaptar ou corrigir o programa.</li>
    210 
    211 <li>Outros desenvolvedores não podem aprender a partir do programa, ou basear um
    212 novo trabalho nele.</li>
    213 </ul>
    214 
    215 <p>
    216    Cada nível de dano material tem uma forma concomitante de dano
    217 psicossocial. Isto se refere ao efeito que as decisões das pessoas tem nos
    218 seus sentimentos, atitudes e predisposições subsequentes. Estas alterações
    219 na maneira de pensar das pessoas terão um efeito posterior no seu
    220 relacionamento com seus concidadãos e podem ter consequências materiais.</p>
    221 <p>
    222    Os três níveis de danos materiais desperdiçam parte do valor que o programa
    223 poderia prover, mas eles não podem reduzi-lo a zero. Se eles desperdiçassem
    224 quase todo o valor do programa, então o programa causaria quase tanto dano à
    225 sociedade quanto o esforço empregado para escrevê-lo. Pode-se dizer que um
    226 programa que é lucrativo deveria prover algum benefício material líquido
    227 direto.</p>
    228 <p>
    229    No entanto, levando em consideração o dano psicossocial concomitante, não
    230 existe limite para os danos que o desenvolvimento de software privativo pode
    231 causar.</p>
    232 
    233 <h4 id="obstructing-use">Obstruindo O Uso de Programas</h4>
    234 <p>
    235    O primeiro nível de dano impede o simples uso de um programa. Uma cópia de
    236 um programa tem um custo marginal de quase zero (e você pode pagar este
    237 custo executando você mesmo a tarefa), sendo assim, num mercado livre, teria
    238 um preço de quase zero. Uma taxa de licença é um desincentivo significativo
    239 ao uso do programa. Se um programa de ampla utilidade é privativo, muito
    240 menos pessoas irão utilizá-lo.</p>
    241 <p>
    242    É fácil mostrar que a contribuição total de um programa para a sociedade é
    243 reduzida atribuindo-se um dono a ele. Cada usuário potencial do programa,
    244 deparado com a necessidade de pagar para utilizá-lo, pode escolher pagar ou
    245 pode abrir mão do seu uso. Quando um usuário escolhe pagar, isto é uma
    246 transferência de riqueza entre duas partes. Mas cada vez que alguém escolhe
    247 abrir mão de usar o programa, isto causa um dano àquela pessoa sem
    248 beneficiar ninguém. A soma dos números negativos e zeros deve ser negativa.</p>
    249 <p>
    250    Mas isto não reduz o montante de trabalho que é necessário para
    251 <em>desenvolver</em> o programa. Como resultado, é reduzida a eficiência do
    252 processo como um todo, em termos da satisfação de usuário proporcionada por
    253 hora de trabalho.</p>
    254 <p>
    255    Isto traz à luz uma diferença crucial entre cópias de programas e carros,
    256 cadeiras, ou sanduíches. Não existe máquina copiadora de objetos materiais,
    257 a não ser em ficção científica. Mas programas são fáceis de copiar; qualquer
    258 um pode produzir tantas cópias quantas quiser, com muito pouco esforço. Isto
    259 não é verdade para objetos materiais porque a matéria é conservada: cada
    260 nova cópia tem que ser construída de matéria-prima da mesma maneira que a
    261 primeira cópia foi.</p>
    262 <p>
    263    Com objetos materiais, um desincentivo para utilizá-los faz sentido, porque
    264 menos objetos comprados significa menos matéria-prima e trabalho necessários
    265 para construí-los. É verdade que normalmente existe um custo inicial, um
    266 custo de desenvolvimento, que é distribuído na produção em massa. Mas uma
    267 vez que o custo de produção seja significativo, acrescentar uma parcela do
    268 custo de desenvolvimento não faz uma diferença qualitativa. E não requer
    269 restrições sobre a liberdade dos usuários comuns.</p>
    270 <p>
    271    No entanto, impor um preço em algo que de outro modo seria gratuito é uma
    272 mudança qualitativa. Uma taxa centralmente imposta para a distribuição do
    273 software se torna um desincentivo poderoso.</p>
    274 <p>
    275    E tem mais, a produção centralizada como é praticada atualmente é
    276 ineficiente mesmo como meio de distribuição de cópias de software. Este
    277 sistema envolve acomodar discos ou fitas em um empacotamento supérfluo,
    278 enviando um grande número deles ao redor do mundo, e armazenando-os para a
    279 venda. Este custo é apresentado como uma despesa de negócio; na verdade, é
    280 parte do desperdício causado por ter donos.</p>
    281 
    282 <h4 id="damaging-social-cohesion">Prejudicando a União Social</h4>
    283 <p>
    284    Suponha que você e seu colega achassem útil rodar um certo programa. Num
    285 consenso ético com seu colega você sente que a maneira apropriada de lidar
    286 com a situação é permitir que ambos utilizem o programa. Uma proposta que
    287 permitisse a somente um dos dois a utilização do programa excluindo o outro
    288 causaria desarmonia; nem você nem seu colega achariam aceitável.</p>
    289 <p>
    290    Aceitar um típico acordo de licença de software significa trair seu colega:
    291 “Eu prometo privar meu colega deste programa de modo que eu possa ter uma
    292 cópia para mim.” As pessoas que fazem opções deste tipo sentem uma pressão
    293 psicológica interna para se justificar, desmerecendo a importância da
    294 cooperação mútua — assim o espírito público é prejudicado. Este é um dano
    295 psicossocial associado com o dano material de desencorajar o uso do
    296 programa.</p>
    297 <p>
    298    Muitos usuários inconscientemente reconhecem o erro de se recusar a
    299 compartilhar, então eles decidem ignorar as licenças e as leis, e
    300 compartilham programas de qualquer forma. Mas eles frequentemente se sentem
    301 culpados por agirem assim. Eles sabem que devem quebrar as leis para serem
    302 bons colegas, mas ainda assim reconhecem a autoridade das leis, então
    303 concluem que ser um bom companheiro (que eles são) é perverso ou
    304 vergonhoso. Isto também é um tipo de dano psicossocial, mas alguém pode
    305 escapar disto decidindo que estas licenças e leis não têm força moral.</p>
    306 <p>
    307    Os programadores também sofrem dano psicossocial por saber que muitos
    308 usuários não terão o direito de tirar proveito do seu trabalho. Isto leva a
    309 uma atitude de cinismo ou negação. Um programador pode descrever
    310 entusiasticamente o trabalho que ele acha tecnologicamente interessante;
    311 então quando perguntado, “Eu vou poder usar isso?”, seu semblante cai e ele
    312 admite que a resposta é não. Para evitar se sentir desestimulado, ele ou
    313 ignora isso a maior parte do tempo ou adota uma postura cínica elaborada
    314 para minimizar a relevância do fato.</p>
    315 <p>
    316    Desde a época do governo Reagan, a maior escassez nos Estados Unidos não é
    317 inovação tecnológica e sim a disposição de trabalhar junto para o bem
    318 público. Não faz sentido estimular o primeiro às custas do segundo.</p>
    319 
    320 <h4 id="custom-adaptation">Obstruindo a Adaptação Personalizada de Programas</h4>
    321 <p>
    322    O segundo nível de dano material é a impossibilidade de adaptar programas. A
    323 facilidade de modificação do software é uma das suas grandes vantagens em
    324 relação às tecnologias mais antigas. Mas a maior parte do software
    325 disponível comercialmente não está disponível para modificação, mesmo depois
    326 de você comprá-lo. Está disponível para você pegar ou largar, como uma caixa
    327 preta — e isto é tudo.</p>
    328 <p>
    329    Um programa que você pode rodar consiste numa série de números cujo
    330 significado é obscuro. Ninguém, nem mesmo um bom programador, pode
    331 facilmente mudar os números para fazer com que o programa aja diferente.</p>
    332 <p>
    333    Programadores normalmente trabalham com o “código-fonte” do programa, que é
    334 escrito numa linguagem de programação como Fortran ou C. Ela usa nomes para
    335 designar os dados utilizados e as partes do programa, e representa operações
    336 com símbolos como '+' para adição e '-' para subtração. Isto é feito para
    337 auxiliar os programadores a ler e alterar programas. Aqui está um exemplo;
    338 um programa para calcular a distância entre dois pontos num plano:</p>
    339 
    340 <pre>
    341      float
    342      distance (p0, p1)
    343           struct point p0, p1;
    344      {
    345        float xdist = p1.x - p0.x;
    346        float ydist = p1.y - p0.y;
    347        return sqrt (xdist * xdist + ydist * ydist);
    348      }
    349 </pre>
    350 <p>
    351    O que o código-fonte precisamente significa não é o importante; o importante
    352 é que isso se parece com álgebra, e uma pessoa que sabe essa linguagem de
    353 programação vai entender seu significado e achar claro. Em contraste, aqui
    354 está o mesmo programa na forma executável, no computador que eu normalmente
    355 usava quando escrevi isso:
    356 </p>
    357 
    358 <pre>
    359      1314258944      -232267772      -231844864      1634862
    360      1411907592      -231844736      2159150         1420296208
    361      -234880989      -234879837      -234879966      -232295424
    362      1644167167      -3214848        1090581031      1962942495
    363      572518958       -803143692      1314803317
    364 </pre>
    365 
    366 <p>
    367    Código-fonte é útil (no mínimo em potencial) para qualquer usuário de um
    368 programa. Mas a maioria dos usuários não tem permissão para ter cópias do
    369 código-fonte. Normalmente o código-fonte de um programa privativo é mantido
    370 em segredo pelo dono, evitando que qualquer pessoa possa aprender a partir
    371 dele. Usuários recebem apenas os arquivos contendo números incompreensíveis
    372 que o computador irá executar. Isto significa que somente o dono do programa
    373 pode alterá-lo.</p>
    374 <p>
    375    Uma amiga me disse uma vez que ela estava trabalhando em um banco durante
    376 aproximadamente seis meses, escrevendo um programa similar a algo que estava
    377 disponível comercialmente. Ela acreditava que se pudesse ter acesso ao
    378 código-fonte para aquele programa disponível comercialmente, ele poderia ter
    379 sido adaptado facilmente às suas necessidades. O banco estava disposto a
    380 pagar por isso, mas não lhe foi permitido — o código-fonte era um
    381 segredo. Sendo assim ela teve que gastar seis meses nesta tarefa, trabalho
    382 este que conta no Produto Interno Bruto (PIB) mas que na verdade foi
    383 desperdício.</p>
    384 <p>
    385    O laboratório de Inteligência Artificial do <abbr title="Massachusetts
    386 Institute of Technology">MIT</abbr> (laboratório de AI) recebeu uma
    387 impressora gráfica como presente da Xerox por volta de 1977. Funcionava com
    388 software livre ao qual nós adicionamos muitas funcionalidades
    389 convenientes. Por exemplo, o software notificava um usuário imediatamente ao
    390 término de uma impressão. Sempre que a impressora tinha algum problema, tal
    391 como papel preso ou falta de papel, o software imediatamente notificava
    392 todos os usuários que tinham impressões na fila. Estas funcionalidades
    393 facilitavam a operação tranquila.</p>
    394 <p>
    395    Mais tarde a Xerox deu ao laboratório de AI uma impressora mais nova, mais
    396 rápida, uma das primeiras impressoras a laser. Ela era controlada por um
    397 software privativo que rodava em um computador dedicado separado, sendo
    398 assim nós não poderíamos acrescentar qualquer das nossas funcionalidades
    399 favoritas. Nós poderíamos organizar as coisas de modo a enviar uma
    400 notificação quando a tarefa de impressão fosse enviada ao computador
    401 dedicado, mas não quando a impressão realmente fosse feita (e o atraso era
    402 normalmente considerável). Não havia modo de saber quando a impressão era
    403 realmente concluída; você poderia somente chutar. E ninguém era informado
    404 quando havia um papel enroscado, de modo que a impressora frequentemente
    405 ficava por uma hora parada.</p>
    406 <p>
    407    Os programadores de sistema do laboratório de AI eram capazes de corrigir
    408 estes problemas, provavelmente tão capazes quanto os autores originais do
    409 programa. A Xerox não estava interessada em corrigi-los no entanto, e
    410 preferiu nos impedir, de modo que nós fomos forçados a aceitar os
    411 problemas. Eles nunca foram corrigidos.</p>
    412 <p>
    413    A maioria dos bons programadores já passou por esta frustração. O banco pôde
    414 se permitir resolver o problema escrevendo um novo programa do zero, mas um
    415 usuário típico, não importa o quão conhecedor, não tem outra alternativa
    416 senão desistir.</p>
    417 <p>
    418    Desistência causa dano psicossocial — ao espírito da autoconfiança. É
    419 desmoralizante viver numa casa que você não pode reorganizar para satisfazer
    420 as suas necessidades. Isto leva à resignação e desencorajamento, que pode se
    421 espalhar e afetar outros aspectos da vida de uma pessoa. Pessoas que se
    422 sentem assim são infelizes e não produzem um bom trabalho.</p>
    423 <p>
    424    Imagine o que aconteceria se receitas culinárias fossem entesouradas como o
    425 software. Você poderia dizer, “Como eu mudo esta receita para tirar o sal?”,
    426 e o grande chefe de cozinha te responderia, “Como ousa insultar minha
    427 receita, o fruto do meu cérebro e do meu paladar, tentando mexer nela? Você
    428 não tem conhecimento para alterar minha receita e fazê-la funcionar.”</p>
    429 <p>
    430    “Mas meu médico disse que eu não posso comer sal! O que eu posso fazer? Você
    431 vai tirar o sal pra mim?”</p>
    432 <p>
    433    “Eu faria com muito prazer; meus honorários são de apenas $50.000.” Uma vez
    434 que o dono tem o monopólio nas alterações, os honorários tendem a ser
    435 grandes. “No entanto, justamente agora eu não tenho tempo. Estou ocupado com
    436 uma comissão para projetar uma nova receita para o biscoito do navio para o
    437 Departamento da Marinha. Posso te dar um retorno daqui a dois anos.”</p>
    438 
    439 <h4 id="software-development">Obstruindo Desenvolvimento de Software</h4>
    440 <p>
    441    O terceiro nível de dano material afeta o desenvolvimento de
    442 software. Desenvolvimento de software costumava ser um processo
    443 evolucionário, onde uma pessoa pegava um programa existente e reescrevia
    444 partes dele para obter uma nova funcionalidade, e então outra pessoa iria
    445 reescrever partes para adicionar outra funcionalidade; em alguns casos isso
    446 continuava por um período de vinte anos. Neste meio-tempo, partes do
    447 programa eram “canibalizadas” para formar o princípio de outros programas.</p>
    448 <p>
    449    A existência de donos impede este tipo de evolução, tornando necessário
    450 começar do zero quando do desenvolvimento de um programa. Também impede
    451 novos praticantes de estudar programas existentes para aprender técnicas
    452 úteis ou mesmo como grandes programas podem ser estruturados.</p>
    453 <p>
    454    Donos também obstruem a educação. Eu tenho conhecido estudantes brilhantes
    455 em ciência da computação que nunca viram o código-fonte de um programa
    456 grande. Eles podem ser bons para escrever pequenos programas, mas eles não
    457 podem começar a aprender os conhecimentos diferentes que são necessários
    458 para a construção de grandes programas se eles não podem ver como outros
    459 fizeram isto.</p>
    460 <p>
    461    Em qualquer área intelectual, uma pessoa pode alcançar maiores alturas
    462 subindo nos ombros de outros. Mas geralmente isto não é mais permitido na
    463 área de software — você pode somente subir nos ombros das outras pessoas
    464 dentro <em>da sua empresa</em>.</p>
    465 <p>
    466    O dano psicossocial associado afeta o espírito da cooperação científica, que
    467 costumava ser tão forte que cientistas cooperariam mesmo quando suas nações
    468 estava em guerra. Imbuídos deste espírito, oceanógrafos japoneses
    469 abandonando seu laboratório numa ilha do Pacífico cuidadosamente preservaram
    470 seu trabalho para os soldados invasores dos Estados Unidos, e deixaram uma
    471 nota pedindo que eles tomassem cuidado com aquilo.</p>
    472 <p>
    473    Conflitos por lucro têm destruído o que conflitos internacionais
    474 pouparam. Hoje em dia cientistas em muitas áreas não publicam o suficiente
    475 nos seus ensaios para permitir que outros reproduzam suas experiências. Eles
    476 publicam somente o suficiente para permitir aos leitores maravilharem-se do
    477 quanto eles foram capazes de fazer. Isto certamente é verdade em ciência da
    478 computação, onde o código-fonte do programa relatado é normalmente secreto.</p>
    479 
    480 <h4 id="does-not-matter-how">Não Importa Como o Compartilhamento Seja Restringido</h4>
    481 <p>
    482    Eu discuti os efeitos de evitar que as pessoas copiem, alterem e construam
    483 um programa. Eu não especifiquei como esta obstrução é feita, porque isto
    484 não afeta a conclusão. Não importa se é feita através de proteção contra
    485 cópia, copyright, licenças, criptografia, cartões <abbr title="Read-only
    486 Memory">ROM</abbr>, números seriais de hardware, se é bem <em>sucedido</em>
    487 então causa dano.</p>
    488 <p>
    489    Usuários consideram alguns destes métodos mais detestáveis que outros. Eu
    490 sugiro que os métodos mais odiados são aqueles que atingem seu objetivo.</p>
    491 
    492 <h4 id="should-be-free">O Software Deveria ser Livre</h4>
    493 <p>
    494    Eu mostrei como a propriedade de um programa — o poder de restringir as
    495 alterações ou a cópia dele — é obstrusivo. Seus efeitos negativos são
    496 amplamente disseminados e importantes. Segue que a sociedade não deveria ter
    497 donos para programas.</p>
    498 <p>
    499    Outra maneira de entender isto é ver que o que a sociedade precisa é de
    500 software livre, e software privativo é um substituto pobre. Encorajar o
    501 substituto não é uma maneira racional de obter o que nós precisamos.</p>
    502 <p>
    503    Vaclav Havel nos aconselhou: “Trabalhe por algo porque é bom e não apenas
    504 porque tem chance de sucesso.” Um negócio fazendo software privativo tem
    505 chance de sucesso dentro dos seus próprios termos limitados, mas não é o que
    506 é bom para a sociedade.</p>
    507 
    508 <h3 id="why-develop">Por Que as Pessoas Irão Desenvolver Software</h3>
    509 <p>
    510    Se nós eliminarmos a copyright como meio de estimular pessoas a desenvolver
    511 software, no início menos software será desenvolvido, mas este software será
    512 mais útil. Não está claro se a satisfação geral proporcionada será menor;
    513 mas se for, ou se de qualquer jeito nós quisermos aumentá-la, existem outras
    514 maneiras de estimular desenvolvimento, assim como existem outras maneiras de
    515 levantar fundos para estradas sem usar pedágios. Antes de falar a respeito
    516 de como isso pode ser feito, primeiro eu gostaria de questionar o quanto de
    517 incentivo artificial é realmente necessário.</p>
    518 
    519 <h4 id="fun">Programar é Divertido</h4>
    520 <p>
    521    Existem algumas linhas de trabalho em que poucos irão entrar exceto por
    522 dinheiro; construção de rodovias, por exemplo. Existem outras áreas de
    523 estudo e arte em que existe pouca chance de se tornar rico, em que pessoas
    524 entram pela sua fascinação ou pelo percebido valor para a
    525 sociedade. Exemplos incluem a lógica matemática, música clássica,
    526 arqueologia e organização política entre trabalhadores. Pessoas competem por
    527 novas vagas, nenhuma das quais é muito bem remunerada. Elas chegam até a
    528 pagar pela chance de trabalhar na área, se elas têm condições para isso.</p>
    529 <p>
    530    Uma área assim pode se transformar do dia pra noite se começar a oferecer a
    531 possibilidade de ficar rico. Quando um trabalhador fica rico, outros querem
    532 a mesma oportunidade. Logo todos querem grandes somas em dinheiro para fazer
    533 o que eles costumavam fazer por prazer. Quando se passam mais alguns anos,
    534 todos ligados àquele campo irão ridicularizar a ideia que trabalho poderia
    535 ser executado naquela área sem grandes retornos financeiros. Eles irão
    536 aconselhar os planejadores sociais a assegurar que estes retornos sejam
    537 possíveis, prescrevendo privilégios especiais, poderes e monopólios à medida
    538 do necessário para que isto aconteça.</p>
    539 <p>
    540    Esta mudança aconteceu no campo da programação de computadores na década de
    541 1980. Nos anos 70, havia artigos sobre “vício de computador”: usuários
    542 estavam ficando “on-line” e tinham hábitos baratos. Era geralmente conhecido
    543 que pessoas frequentemente amavam programação o suficiente para romper seus
    544 casamentos. Hoje, é geralmente conhecido que ninguém iria programar exceto
    545 por uma alta taxa de remuneração. As pessoas se esqueceram do que elas
    546 sabiam naquela época.</p>
    547 <p>
    548    Quando é verdade em um determinado momento que a maioria das pessoas irão
    549 trabalhar numa certa área por altos pagamentos, isto não precisa continuar
    550 sendo verdade. A dinâmica da mudança pode acontecer ao contrário, se a
    551 sociedade fornecer o ímpeto. Se nós tirarmos a possibilidade de grande
    552 riqueza, então depois de um breve momento, quando as pessoas tiverem
    553 reajustado suas atitudes, elas irão mais uma vez ansiar por trabalhar na
    554 área pelo prazer da conquista.</p>
    555 <p>
    556    A questão “Como nós podemos pagar programadores?” se torna mais fácil quando
    557 nós entendemos que não é uma questão de pagá-los uma fortuna. Um mero viver
    558 é mais fácil de se conseguir.</p>
    559 
    560 <h4 id="funding">Financiando o Software Livre</h4>
    561 <p>
    562    Instituições que pagam programadores não têm que ser “software
    563 houses”. Muitas outras instituições já existem que podem fazer isto.</p>
    564 <p>
    565    Fabricantes de equipamentos acham essencial suportar desenvolvimento de
    566 software mesmo que eles não controlem o uso do software. Em 1970, muito do
    567 seu software era livre porque eles não consideravam a possibilidade de
    568 restringi-lo. Hoje, a sua crescente disposição para combinar consórcios
    569 mostra seu entendimento que possuir o software não é o que é realmente
    570 importante para eles.</p>
    571 <p>
    572    Universidades conduzem muitos projetos de programação. Hoje, elas
    573 frequentemente vendem os resultados, mas nos anos 70, elas não
    574 vendiam. Existe alguma dúvida de que as universidades iriam desenvolver
    575 software livre se não lhes fosse permitido vender software? Estes projetos
    576 poderiam ser financiados pelos mesmos contratos de governo e concessões que
    577 agora financiam o desenvolvimento de software privativo.</p>
    578 <p>
    579    É comum hoje para pesquisadores de universidade pegar concessão para
    580 desenvolver um sistema, desenvolvê-lo até quase o término e dá-lo por
    581 “terminado”, e então começar empresas onde eles realmente terminam o projeto
    582 e o tornam útil. Às vezes eles declaram as versões inacabadas como
    583 “gratuitas”; se eles são profundamente corruptos, eles em vez disso obtém
    584 uma licença exclusiva da universidade. Isto não é nenhum segredo; é
    585 abertamente admitido por todos os interessados. Já se os pesquisadores não
    586 fossem expostos à tentação de fazer estas coisas, eles ainda assim fariam
    587 suas pesquisas.</p>
    588 <p>
    589    Programadores que escrevem software livre podem ganhar a vida vendendo
    590 serviços relacionados ao software. Eu tenho sido contratado para portar o <a
    591 href="/software/gcc/">compilador C GNU</a> para novos equipamentos, e para
    592 fazer extensões à interface do usuário no <a href="/software/emacs/">GNU
    593 Emacs</a>. (Eu ofereço estas melhorias ao público uma vez que elas ficam
    594 prontas.) Eu também ensino em salas de aula, pelo que eu sou pago.</p>
    595 <p>
    596    Eu não sou o único que trabalha desta forma; existe hoje uma empresa
    597 crescente e bem sucedida que não faz outra coisa. Diversas outras empresas
    598 também fornecem suporte comercial para software livre do sistema GNU. Isto é
    599 o começo de uma indústria de suporte ao software independente — uma
    600 indústria que poderia se tornar muito grande se o software livre se tornasse
    601 predominante. Ela dá aos usuários uma opção geralmente não disponível para o
    602 software privativo, exceto para os muito ricos.</p>
    603 <p>
    604    Novas instituições tais como a <a href="/fsf/fsf.html">Free Software
    605 Foundation</a> podem também pagar programadores. A maior parte dos fundos da
    606 fundação vem de usuários comprarem fitas através do correio. O software nas
    607 fitas é livre, o que significa que todo usuário tem a liberdade de copiá-lo
    608 e alterá-lo, mas muitos apesar de tudo pagam para obter cópias. (Lembre-se
    609 que “free software” se refere a liberdade e não preço). Alguns usuários
    610 adquirem fitas para as quais eles já tem uma cópia, como uma maneira de
    611 fazer uma contribuição que eles sentem que nós merecemos. A fundação também
    612 recebe donativos consideráveis de fabricantes de computadores.</p>
    613 <p>
    614    A Free Software Foundation é uma entidade, e suas receitas são gastas
    615 contratando tantos programadores quanto possível. Se ela tivesse sido feita
    616 para ganhos financeiros, distribuindo o mesmo software livre ao público
    617 pelos mesmos valores, daria agora uma vida muito boa ao seu fundador.</p>
    618 <p>
    619    Em virtude da fundação ser uma entidade, programadores frequentemente
    620 trabalham pra ela por metade do que eles poderiam ganhar em outro
    621 lugar. Eles fazem isto porque nós somos livres de burocracia, e porque eles
    622 sentem satisfação em saber que seu trabalho não será obstruído. Acima de
    623 tudo, eles fazem isso porque programar é divertido. Fora isso, voluntários
    624 têm escrito muitos programas úteis para nós. (Recentemente mesmo escritores
    625 técnicos começaram a se oferecer.)</p>
    626 <p>
    627    Isto confirma que programação está entre as áreas mais fascinantes de todas,
    628 junto da música e da arte. Nós não temos medo que ninguém queira programar.</p>
    629 
    630 <h4 id="owe">O Que os Usuários Devem aos Desenvolvedores?</h4>
    631 <p>
    632    Existe uma boa razão para os usuários de software sentirem uma obrigação
    633 moral de contribuir para seu suporte. Desenvolvedores de software livre
    634 estão contribuindo para as atividades dos usuários, e é justo e a longo
    635 prazo interessante para os usuários prover os fundos para continuar.</p>
    636 <p>
    637    No entanto, isto não se aplica a software privativo, uma vez que o
    638 obstrucionismo merece uma punição em vez de uma recompensa.</p>
    639 <p>
    640    Nós temos assim um paradoxo: o desenvolvedor de software útil tem direito ao
    641 suporte dos usuários, mas qualquer tentativa de tornar esta obrigação moral
    642 numa exigência destrói a base para a obrigação. Um desenvolvedor pode tanto
    643 merecer a recompensa quanto exigi-la, mas não ambos.</p>
    644 <p>
    645    Eu acredito que um desenvolvedor ético defrontado com este paradoxo deve
    646 agir de modo a merecer a recompensa, mas deveria também solicitar aos
    647 usuários donativos voluntários. No final das contas os usuários irão
    648 aprender a suportar os desenvolvedores sem coerção, assim como eles
    649 aprenderam a suportar as estações públicas de rádio e televisão.</p>
    650 
    651 <h3 id="productivity">O Que É Produtividade De Software? </h3>
    652 <p>
    653    Se o software fosse livre, ainda assim existiriam programadores, mas talvez
    654 um número menor deles. Seria isto ruim para a sociedade?</p>
    655 <p>
    656    Não necessariamente. Hoje as nações avançadas têm menos fazendeiros que em
    657 1900, mas nós não achamos que isto seja ruim para a sociedade, porque os em
    658 menor número fornecem mais comida aos consumidores do que os em maior número
    659 faziam. Nós chamamos isso de produtividade melhorada. Software livre
    660 exigiria muito menos programadores para satisfazer a demanda, por causa da
    661 produtividade de software aumentada em todos os níveis:</p>
    662 
    663 <ul>
    664 <li> Uso mais amplo de cada programa que é desenvolvido.</li>
    665 <li> A habilidade de adaptar programas para personalização em vez de começar do
    666 zero.</li>
    667 <li> Melhor educação de programadores.</li>
    668 <li> A eliminação de esforço de desenvolvimento duplicado.</li>
    669 </ul>
    670 
    671 <p>
    672    Aqueles que se opõem à cooperação porque isso resultaria no emprego de menos
    673 programadores, estão na verdade se opondo à produtividade melhorada. Estas
    674 mesmas pessoas normalmente concordam com a crença largamente aceita que a
    675 indústria de software precisa de produtividade melhorada. Pode?</p>
    676 <p>
    677    “Produtividade de Software” pode significar duas coisas diferentes: a
    678 produtividade geral de todo o desenvolvimento de software ou a produtividade
    679 de projetos individuais. Produtividade geral é o que a sociedade gostaria de
    680 ver melhorada e a maneira mais direta de fazer isto é eliminar os obstáculos
    681 artificiais à cooperação que a reduzem. Mas pesquisadores que estudam a área
    682 de “produtividade de software” focam somente no segundo, limitado, sentido
    683 da frase, onde melhoria requer avanços tecnológicos difíceis.</p>
    684 
    685 <h3 id="competition">A Competição É Inevitável?</h3>
    686 <p>
    687    É inevitável que as pessoas tentem competir, sobrepujando seus rivais em
    688 sociedade? Talvez sim. Mas competição por si só não é prejudicial; o que é
    689 prejudicial é o <em>combate</em>.</p>
    690 <p>
    691    Existem maneiras de competir. Competição pode consistir de tentar alcançar
    692 cada vez mais, exceder o que outros fizeram. Por exemplo, antigamente,
    693 haviam competições entre magos da programação — competição para ver quem
    694 poderia fazer o computador executar a coisa mais impressionante, ou fazer o
    695 mais curto ou mais rápido programa para uma dada tarefa. Este tipo de
    696 competição pode beneficiar a todos, <em>contanto que</em> o espírito
    697 esportivo seja mantido.</p>
    698 <p>
    699    Competição construtiva é competição suficiente para motivar pessoas a
    700 grandes esforços. Algumas pessoas estão competindo para ver quem será o
    701 primeiro a ter visitado todos os países da Terra; alguns até mesmo já
    702 gastaram fortunas tentando isso. Mas eles não subornam capitães de navio
    703 para encalhar seus rivais em ilhas desertas. Eles estão satisfeitos em que
    704 vença o melhor.</p>
    705 <p>
    706    Competição se torna combate quando os competidores começam a tentar impedir
    707 um ao outro de avançar — quando o “que vença o melhor” dá lugar ao “que eu
    708 vença, sendo ou não o melhor.” Software privativo é prejudicial, não porque
    709 seja uma forma de competição, mas porque é uma forma de combate entre
    710 cidadãos da nossa sociedade.</p>
    711 <p>
    712    Competição em negócios não é necessariamente combate. Por exemplo, quando
    713 duas mercearias competem, todo seu esforço é para melhorar as suas próprias
    714 operações, não para sabotar a rival. Mas isto não demostra um compromisso
    715 especial com a ética de negócios; em vez disso, há pouco espaço para combate
    716 nesta linha de negócio a não ser violência física. Nem todas as áreas de
    717 negócio compartilham esta característica. Ocultar informação que poderia
    718 ajudar o avanço de todos é uma forma de combate.</p>
    719 <p>
    720    Ideologia de negócios não prepara pessoas para resistir à tentação de
    721 combater na competição. Algumas formas de combate tem sido banidas com leis
    722 antitruste, leis que exigem a verdade em anúncios, e assim por diante, mas
    723 em vez de generalizar isto para obter um princípio de rejeição ao combate em
    724 geral, executivos inventam outras formas de combate que não são
    725 especificamente proibidas. Os recursos da sociedade são gastos no
    726 equivalente econômico da guerra civil faccionária.</p>
    727 
    728 <h3 id="communism">“Por Que Você Não Se Muda Pra Rússia?”</h3>
    729 <p>
    730    Nos Estados Unidos, qualquer um que defenda outra coisa que não a mais
    731 extrema forma de política egoísta de não intervencionismo tem ouvido
    732 frequentemente esta acusação. Por exemplo, é dito isso aos que defendem um
    733 sistema de saúde nacional, tal como os encontrados em todas as outras nações
    734 industrializadas do mundo livre. Também dizem isso aos que defendem o
    735 suporte público para as artes, também universal em nações desenvolvidas. A
    736 ideia que cidadãos tenham qualquer obrigação para com o bem público é
    737 identificada nos Estados Unidos como Comunismo. Mas quão similar são estas
    738 ideias?</p>
    739 <p>
    740    Comunismo como praticado na União Soviética era um sistema de controle
    741 central onde toda atividade era regimentada, supostamente para o bem comum,
    742 mas na prática em prol dos membros do partido Comunista. E onde os
    743 equipamentos de cópia eram guardados hermeticamente para evitar cópias
    744 ilegais.</p>
    745 <p>
    746    O sistema Americano de copyright exerce um controle central sobre a
    747 distribuição de um programa, e guarda os equipamentos de cópia com esquemas
    748 de proteção contra cópia automáticos para evitar a cópia ilegal.</p>
    749 <p>
    750    Em contraste, eu estou trabalhando para construir um sistema onde pessoas
    751 são livres para decidir suas própria ações; em particular, livres para
    752 ajudar seus companheiros, e livres para alterar e melhorar as ferramentas
    753 que elas usam no seu cotidiano. Um sistema baseado em cooperação voluntária
    754 e decentralização.</p>
    755 <p>
    756    Assim, se nós temos que julgar pontos de vista pelas suas semelhanças com o
    757 Comunismo Russo, são os donos de software que são os Comunistas.</p>
    758 
    759 <h3 id="premises">A Questão das Premissas</h3>
    760 <p>
    761    Eu assumo neste documento que um usuário de software não é menos importante
    762 que um autor, ou até mesmo que o empregador de um autor. Em outras palavras,
    763 seus interesses e necessidades têm igual peso, quando nós decidimos que
    764 curso de ação é melhor.</p>
    765 <p>
    766    Esta premissa não é universalmente aceita. Muitos mantêm que um empregador
    767 de autor é fundamentalmente mais importante que qualquer um. Eles dizem, por
    768 exemplo, que o propósito de ter donos de software é dar ao empregador do
    769 autor a vantagem que ele merece — sem levar em consideração como isto pode
    770 afetar o público.</p>
    771 <p>
    772    Não é comum tentar provar ou desaprovar estas premissas. Prova requer
    773 premissas compartilhadas. Sendo assim a maior parte do que eu disse é
    774 somente para aqueles que compartilham as premissas que eu adoto, ou pelo
    775 menos estão interessados em quais são suas consequências. Para aqueles que
    776 acreditam que os donos são mais importantes que todos os demais, este
    777 documento é irrelevante.</p>
    778 <p>
    779    Mas por que um grande número de Americanos iria aceitar uma premissa que
    780 eleva certas pessoas em importância acima de todos os outros? Parcialmente
    781 por causa do credo que esta premissa é parte das tradições legais da
    782 sociedade Americana. Algumas pessoas sentem que duvidar da premissa
    783 significa desafiar as bases da sociedade.</p>
    784 <p>
    785    É importante para estas pessoas saber que esta premissa não é parte da nossa
    786 tradição legal. Nem nunca foi.</p>
    787 <p>
    788    Assim, a Constituição diz que o propósito do copyright é “promover o
    789 progresso da ciência e das artes úteis.” A Suprema Corte foi além disso,
    790 afirmando em <em>Fox Film vs. Doyal</em> que “O único interesse dos Estados
    791 Unidos e o principal objetivo em conferir o monopólio [de copyright] reside
    792 nos benefícios derivados pelo público a partir do trabalho dos autores.”</p>
    793 <p>
    794    Nós não temos que concordar com a Constituição ou com a Suprema Corte. (Uma
    795 vez, ambas perdoaram a escravidão.) Sendo assim suas posições não desaprovam
    796 a premissa da supremacia do dono. Mas eu espero que o anúncio que isto é uma
    797 concepção radical direitista em vez de uma tradicionalmente reconhecida
    798 venha enfraquecer seu apelo.</p>
    799 
    800 <h3 id="conclusion">Conclusão</h3>
    801 <p>
    802    Nós gostamos de pensar que nossa sociedade estimula o auxílio mútuo; mas
    803 cada vez que nós recompensamos alguém pelo seu obstrucionismo, ou o
    804 admiramos pela riqueza que ele ganhou deste modo, nós estamos enviando a
    805 mensagem oposta.</p>
    806 <p>
    807    O entesouramento de software é uma faceta da nossa disposição geral de
    808 desrespeitar o bem estar social em prol do ganho pessoal. Nós podemos vir
    809 acompanhando este desrespeito desde Ronald Reagan a Dick Cheney, desde Exxon
    810 a Enron, desde a falência dos bancos à falência das escolas. Podemos medir
    811 isto pelo tamanho da população sem-teto e da população carcerária. Este
    812 espírito antissocial alimenta a si mesmo; porque quanto mais nós vemos que
    813 outras pessoas não irão nos ajudar, mais nos parece fútil ajudá-las. Assim a
    814 sociedade vai decaindo até se tornar uma selva.</p>
    815 <p>
    816    Se nós não queremos viver numa selva, devemos mudar nossas atitudes. Devemos
    817 começar enviando a mensagem que um bom cidadão é um que coopera quando
    818 apropriado, não um que é bem sucedido tirando dos outros. Eu espero que o
    819 movimento pelo software livre contribua para isto: pelo menos em uma área
    820 nós iremos substituir a selva por um sistema mais eficiente que encoraja e
    821 confia na cooperação voluntária.</p>
    822 <div class="column-limit"></div>
    823 
    824 <h3 id="footnotes" class="footnote">Notas de Rodapé</h3>
    825 
    826 <ol>
    827 <li id="f1">A palavra “free” em “free software” refere-se à liberdade, e não ao preço; o
    828 preço pago por uma cópia de um “free software” pode ser zero, ou pequeno, ou
    829 (raramente) bem grande.</li>
    830 
    831 <li id="f2">Os problemas da poluição e do congestionamento não alteram esta
    832 conclusão. Se nós desejamos tornar o ato de guiar mais caro para
    833 desencorajá-lo em geral, é desvantajoso fazer isto usando pedágios, que
    834 contribuem tanto para a poluição quanto para o congestionamento. Um imposto
    835 sobre a gasolina é muito melhor. Da mesma forma, um desejo de melhorar a
    836 segurança limitando a velocidade máxima não é relevante; a via de acesso
    837 livre melhora a velocidade média evitando paradas e atrasos, para qualquer
    838 limite de velocidade dado.</li>
    839 
    840 <li id="f3">Alguém poderia observar que um programa de computador em particular é uma
    841 coisa prejudicial e que não deveria estar disponível, como a base de dados
    842 de informações pessoais Lotus Marketplace, que foi retirada de venda devido
    843 à desaprovação pública. A maior parte do que eu digo não se aplica a este
    844 caso, mas faz pouco sentido argumentar que seria bom ter um dono porque ele
    845 tornaria o programa menos disponível. O dono não o tornaria
    846 <em>completamente</em> não disponível, como seria desejável no caso de um
    847 programa cujo uso fosse considerado destrutivo.</li>
    848 </ol>
    849 
    850 <hr class="no-display" />
    851 <div class="edu-note c"><p id="fsfs">Este ensaio foi publicado em <a
    852 href="https://shop.fsf.org/product/free-software-free-society/"><cite>Software
    853 Livre, Sociedade Livre: Artigos selecionados de Richard
    854 M. Stallman</cite></a>.</p></div>
    855 </div>
    856 
    857 <div class="translators-notes">
    858 
    859 <!--TRANSLATORS: Use space (SPC) as msgstr if you don't have notes.-->
    860  </div>
    861 </div>
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    867 
    868 <p>Envie perguntas em geral sobre a FSF e o GNU para <a
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    873 
    874 <p>
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    910 Traduzido por:
    911 Juciê Dias Andrade, 2001;
    912 Rafael Fontenelle <a
    913 href="mailto:rafaelff@gnome.org">rafaelff@gnome.org</a>, 2017-2021</div>
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