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<title>Por que o Código Aberto não compartilha dos objetivos do Software Livre -
Projeto GNU - Free Software Foundation</title>

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<h2>Por que o Código Aberto não compartilha dos objetivos do Software Livre</h2>

<address class="byline">por Richard Stallman</address>

<div class="article">

<blockquote class="comment"><p>
Os termos “software livre” e “código aberto” representam quase a mesma gama
de programas. No entanto, eles dizem coisas profundamente diferentes sobre
esses programas, com base em valores diferentes. O movimento do software
livre faz campanha pela liberdade para os usuários da computação; é um
movimento pela liberdade e pela justiça. Por outro lado, a ideia de código
aberto valoriza principalmente a vantagem prática e não faz campanha por
princípios. É por isso que não concordamos com o código aberto e não usamos
esse termo.
</p></blockquote>

<p>Quando dizemos que um software é “livre”, queremos dizer que ele respeita as
<a href="/philosophy/free-sw.html">liberdades essenciais dos usuários</a>: a
liberdade de executá-lo, de estudá-lo e mudá-lo, e redistribuir cópias com
ou sem mudanças. Isso é uma questão de liberdade, não de preço &ndash; pense
em “liberdade de expressão”, não em “cerveja grátis”.</p>

<p>Essas liberdades são vitalmente importantes. Elas são essenciais não apenas
para os propósitos individuais dos usuários, mas para a sociedade como um
todo, pois elas promovem solidariedade social &ndash; isto é,
compartilhamento e cooperação. Elas se tornam ainda mais importantes à
medida que nossa cultura e atividades cotidianas se tornam mais
digitalizadas. Num mundo de sons, imagens e palavras digitais, o software
livre se torna essencial para a liberdade em geral.</p>

<p>Dezenas de milhões de pessoas no mundo atualmente usam software livre; as
escolas públicas de algumas regiões da Índia e da Espanha ensinam todos seus
estudantes a usar o <a href="/gnu/linux-and-gnu.html">sistema operacional
livre GNU/Linux</a>. Muitos desses usuários, contudo, nunca ouviram sobre as
razões éticas pelas quais nós desenvolvemos esse sistema e construímos a
comunidade do software livre, devido ao fato de que hoje em dia esse sistema
e comunidade são muito frequentemente divulgados como “código aberto”,
atribuindo a eles uma filosofia diferente, na qual essas liberdades
dificilmente são mencionadas.</p>

<p>O movimento do software livre tem lutado pela liberdade dos usuários de
computador desde 1983. Em 1984 nós iniciamos o desenvolvimento do sistema
operacional livre GNU para que pudéssemos evitar os sistemas operacionais
proprietários (não livres) que negam liberdade aos seus usuários. Durante os
anos 80, nós desenvolvemos boa parte dos componentes essenciais do sistema e
criamos a <a href="/licenses/gpl.html">Licença Pública Geral GNU</a> (GNU
GPL) para lançá-los &ndash; uma licença especificamente projetada para
proteger a liberdade de todos os usuários de um programa.</p>

<p>Nem todos os usuários e desenvolvedores de software livre concordaram com os
objetivos do movimento do software livre. Em 1998, uma parte da comunidade
do software livre se separou e iniciou uma campanha em nome do “código
aberto”. O termo foi originalmente proposto com a finalidade de evitar uma
possível confusão com o termo “software livre”, porém logo se tornou
associado a visões filosóficas bem diferentes daquelas do movimento do
software livre.</p>

<p>Alguns dos partidários do código aberto consideram o termo uma “campanha de
marketing pelo software livre”, que apela aos empresários ao salientar os
benefícios práticos do software, ao mesmo tempo que não levanta questões
sobre certo e errado que eles podem não querer ouvir. Outros partidários
rejeitam terminantemente os valores éticos e sociais do movimento do
software livre. Quaisquer que sejam seus pontos de vista, na campanha pelo
código aberto, eles não citam nem advogam esses valores. O termo “código
aberto” se tornou rapidamente associado a ideias e argumentos baseados
apenas em valores práticos, tais como criar ou ter software poderoso e
confiável. A maioria dos partidários do código aberto tem feito isso desde
então, e fazem a mesma associação. A maioria das discussões sobre “código
aberto” não presta atenção ao certo e ao errado, apenas à popularidade e ao
sucesso; aqui está um <a
href="http://www.linuxinsider.com/story/Open-Source-Is-Woven-Into-the-Latest-Hottest-Trends-78937.html">exemplo
típico</a>. Uma minoria de defensores do código aberto hoje em dia diz que a
liberdade é parte da questão, mas eles não são muito visíveis entre os
muitos que não o fazem.</p>

<p>Os dois termos descrevem quase a mesma categoria de software, porém eles
referem-se a visões baseadas em valores fundamentalmente diferentes. Para o
movimento do software livre, o software livre é um imperativo ético, com
respeito essencial à liberdade dos usuários. Em contrapartida, a filosofia
do código aberto considera os problemas em termos de como tornar o software
“melhor” &ndash; e, um sentido prático apenas. Ela diz que o software não
livre é uma solução inferior para o problema prático em questão.</p>

<p>Para o movimento do software livre, contudo, o software não livre é um
problema social e a solução é parar de usá-lo e migrar para o software
livre.</p>

<p>“Software livre”. “Código aberto”. Se é o mesmo software (<a
href="/philosophy/free-open-overlap.html">ou quase</a>), realmente importa
que nome você usa? Sim, porque palavras diferentes exprimem ideias
diferentes. Embora um programa livre daria a você a mesma liberdade hoje por
qualquer outro nome, estabelecer a liberdade de forma duradoura depende
sobretudo de ensinar as pessoas a valorizar a liberdade. Se você quer ajudar
nesse sentido, é essencial falar em “software livre”.</p>

<p>Nós do movimento do software livre não vemos o código aberto como um
empreendimento inimigo; o inimigo é o software (não livre)
proprietário. Porém, nós queremos que as pessoas saibam que apoiamos a
liberdade, por isso não aceitamos ser rotulados erroneamente como apoiadores
do código aberto. O que defendemos não é “código aberto” e o que nos opomos
não é “código fechado”. Para deixar isso claro, evitamos usar esses termos.
</p>

<h3>Diferenças práticas entre Software Livre e Código Aberto</h3>

<p>Na prática, o código aberto apoia critérios um pouco mais flexíveis que os
do software livre. Até onde sabemos, todos os códigos abertos de software
livre lançados se qualificariam como código aberto. Quase todos os softwares
de código aberto são software livre, mas há exceções. Primeiro, algumas
licenças de código aberto são restritivas demais, de forma que elas não se
qualificam como licenças livres. Por exemplo, a “Open Watcom” é não livre
porque sua licença não permite fazer uma versão modificada e usá-la
privativamente. Por sorte, poucos programas usam tais licenças.</p>

<p>Em segundo lugar, quando o código-fonte de um programa carrega uma licença
fraca, uma sem copyleft, seus executáveis podem conter condições adicionais
não livres. <a href="https://code.visualstudio.com/License/">A Microsoft faz
isso com o Visual Studio</a>, por exemplo.</p>

<p>Se esses executáveis corresponderem totalmente aos fontes lançados, eles se
qualificam como código aberto, mas não como software livre. No entanto,
nesse caso, os usuários podem compilar o código-fonte para criar e
distribuir executáveis livres.</p>

<p>Finalmente, e mais importante na prática, muitos produtos contendo
computadores verificam assinaturas em seus programas executáveis para
bloquear usuários de instalar executáveis; apenas uma empresa privilegiada
pode fazer executáveis que funcionem no dispositivo e que possa acessar toda
sua capacidade. Nós chamamos esses dispositivos de “tiranos”, e a prática é
chamada de “tivoização” em referência ao produto (Tivo) através do qual nós
vimos isto pela primeira vez. Mesmo que o executável tenha sido feito de
código aberto, e nominalmente carrega uma licença livre, os usuários não
podem executar versões modificadas dele, motivo pelo qual o executável é não
livre de-facto.</p>

<p>Muitos produtos Android contêm executáveis tivoizados não livres do Linux,
mesmo que seu código-fonte esteja sob a versão 2 da GNU GPL. Projetamos a
versão 3 da GNU GPL para proibir essa prática.</p>

<p>Os critérios de código aberto se preocupam unicamente com o licenciamento do
código aberto. Então, esses executáveis não livres, quando feitos a partir
de código aberto como o Linux, que é um código aberto e livre, são códigos
abertos, porém não livres.</p>

<h3>Enganos comuns em relação ao “Software Livre” e “Código Aberto”</h3>

<p>O termo “software livre” está propenso a interpretação errada: o sentido não
intencional de “software que você pode adquirir a custo zero” se encaixa ao
termo tão bem quanto o sentido intencional, “software que dá ao usuário
certas liberdades”. Nós resolvemos esse problema ao publicarmos a definição
de software livre e ao dizer “Pense em ‘liberdade de expressão’, não em
‘cerveja grátis’”. Essa não é uma solução perfeita; ela não elimina
completamente o problema. Um termo não ambíguo e correto seria melhor, se
ele não apresentasse outros problemas.</p>

<p>Infelizmente, todas as alternativas na língua inglesa têm problemas
próprios. Temos avaliado as muitas sugestões propostas pelas pessoas, mas
nenhuma é tão claramente “adequada” que mudar para ela seria uma boa
ideia. (Por exemplo, em alguns contexto, a palavra “libre” do Francês e do
Espanhol funciona bem, porém as pessoas da Índia não a reconhecem de forma
alguma.) Todas as substituições propostas para “software livre” trazem algum
tipo de problema semântico &ndash; e isso inclui “software de código
aberto”.</p>

<p>A <a href="https://opensource.org/osd">definição oficial de “software de
código aberto”</a> (que foi publicada pela Open Source Initiative e é longa
demais para ser incluída aqui) foi indiretamente derivada dos nossos
critérios para o software livre. Ela não é igual; é um pouco mais ampla em
alguns aspectos. Não obstante, a definição deles concorda com a nossa na
maioria dos casos.</p>

<p>Contudo, o sentido óbvio para a expressão “software de código aberto”
&ndash; e o único que boa parte das pessoas parece considerar &mdash; é
“Você pode dar uma olhada no código-fonte”. Esse critério é mais fraco do
que a definição de software livre e mais fraco também do que a definição
oficial de código aberto, pois isso inclui muitos programas que não são nem
livres nem código aberto.</p>

<p>Visto que o sentido óbvio para “código aberto” não é o mesmo que seus
defensores intencionam, o resultado é que muitas pessoas interpretam mau o
termo. De acordo com o escritor Neal Stephenson, “o Linux é um software de
‘código aberto’, o que significa, simplesmente, que qualquer um pode obter
cópias de seus arquivos de código-fonte”. Eu não acho que ele
deliberadamente procurou rejeitar ou contestar a definição “oficial”. Eu
penso que ele simplesmente aplicou as convenções da língua inglesa para
encontrar um sentido para o termo. O <a
href="https://web.archive.org/web/20001011193422/http://da.state.ks.us/ITEC/TechArchPt6ver80.pdf">estado
do Kansas</a> publicou uma definição similar: “Fazer uso de software de
código-aberto (OSS). OSS é o software para o qual o código-fonte é livre e
disponibilizado publicamente, porém os acordos de licenciamento específicos
variam quanto ao que é permitido se fazer com o código”.</p>

<p>O <i>New York Times</i> <a
href="http://www.nytimes.com/external/gigaom/2009/02/07/07gigaom-the-brave-new-world-of-open-source-game-design-37415.html">publicou
um artigo que estende o sentido do termo</a> para se referir a testes beta
de usuário &ndash; deixar que alguns usuários testem uma versão inicial e
enviem feedback confidencial &mdash; que os desenvolvedores de software
proprietário têm praticado por décadas.</p>

<p>O termo foi estendido até mesmo para incluir projetos para equipamento que
estão <a
href="http://www.theguardian.com/sustainable-business/2015/aug/27/texas-teenager-water-purifier-toxic-e-waste-pollution">publicados
sem uma patente</a>. Projetos de equipamentos sem patentes podem ser
contribuições louváveis para a sociedade, porém o termo “código aberto” não
se aplica a eles.</p>

<p>Os partidários do código aberto tentam lidar com isso chamando atenção para
sua definição oficial, mas essa abordagem corretiva é menos efetiva para
eles do que para nós. O termo “software livre” tem dois sentidos naturais,
um dos quais é o sentido intencional; assim uma pessoa que tenha captado a
ideia de “liberdade de expressão, não cerveja grátis” não errará
novamente. Porém, o termo “código aberto” tem apenas um sentido natural, que
é diferente do sentido que seus partidários tinham em mente. Assim, não há
modo sucinto de explicar e justificar sua definição oficial &ndash; o que
torna a confusão pior.</p>

<p>Outro engano sobre o “código aberto” é a ideia que ele significa “não usando
a GNU GPL”. Esse engano tende a acompanhar outro mal-entendido que “software
livre” significa “software coberto pela GPL”. Ambos são equívocos, visto que
a GNU GPL qualifica-se como uma licença código aberto e a maioria das
licenças de código aberto qualificam-se como licenças de software livre. Há
<a href="/licenses/license-list.html">muitas licenças de software livre</a>
além da GNU GPL.</p>

<p>O termo “código aberto” tem sido adicionalmente estendido por sua aplicação
a outras atividades, tais como governo, educação e ciência, onde não existe
código-fonte e onde os critérios para licenciamento de software são
simplesmente não pertinentes. A única coisa que essas atividades têm em
comum é que elas, de alguma forma, convidam as pessoas a participar. Eles
estenderam tanto o termo que ele apenas significa “participativo” ou
“transparente”, ou menos que isso. Na pior das hipóteses, ele se <a
href="http://www.nytimes.com/2013/03/17/opinion/sunday/morozov-open-and-closed.html">tornou
um termo vazio na moda</a>.</p>

<h3>Valores diferentes podem levar a conclusões similares &ndash; mas nem sempre</h3>

<p>Grupos radicais da década de 1960 tinham a reputação de faccionalistas:
algumas organizações dividiram-se devido a desacordos sobre detalhes de
estratégia e os dois grupos criados tratavam-se um ao outro como inimigos, a
despeito de terem valores e objetivos básicos similares. A ala direita fez
muito caso disso e usou isso para criticar toda a ala esquerda.</p>

<p>Alguns tentam rebaixar o movimento do software livre ao comparar nosso
desacordo com o código aberto ao desacordo de outros grupos radicais, mas a
verdade é outra. Nós discordamos com a campanha do código aberto no que
concerne aos valores e objetivos básicos, mas tanto a visão deles quanto a
nossa, em muitos casos, levam ao mesmo comportamento prático &ndash; tal
como desenvolver software livre.</p>

<p>Como consequência, pessoas do movimento do software livre e pessoas do
código aberto frequentemente trabalham juntas em projetos práticos, tal como
o desenvolvimento de software. É digno de nota que essas diferentes visões
filosóficas podem às vezes motivar diferentes pessoas a participar nos
mesmos projetos. No entanto, há situações em que essas visões
fundamentalmente diferentes levam a ações muito diferentes.</p>

<p>A ideia do código aberto é que permitir aos usuários mudar e redistribuir o
software irá torná-lo mais poderoso e confiável. Porém, isso não é
garantido. Desenvolvedores de software proprietário não são necessariamente
incompetentes. Às vezes, eles produzem um programa que é poderoso e
confiável, ainda que ele não respeite a liberdade dos usuários. Os ativistas
do software livre e entusiastas do código aberto irão reagir de modo bem
diferente a isso.</p>

<p>Um puro entusiasta do código aberto, alguém que absolutamente não é
influenciado pelos ideias do software livre, dirá: “Eu estou surpreso que
você conseguiu fazer um programa rodar tão bem sem usar nosso modelo de
desenvolvimento, mas você conseguiu. Como obtenho uma cópia?”. Essa atitude
recompensará esquemas que tiram nossa liberdade, levando à sua perda.</p>

<p>Um ativista do software livre dirá: “Seu programa é muito atrativo, porém,
eu valorizo mais a minha liberdade. Sendo assim, eu rejeito seu programa. Eu
criarei minha obra de outra forma, e apoiarei um projeto para desenvolver um
substituto livre”. Se nós valorizamos nossa liberdade, nós podemos agir para
mantê-la e defendê-la.</p>

<h3>Software poderoso e confiável pode ser ruim</h3>

<p>A ideia que desejamos que o software seja poderoso e confiável advém da
suposição de que o software está designado para servir seus usuários. Se ele
é poderoso e confiável, isso significa que ele os serve melhor.</p>

<p>Porém, pode-se dizer que o software serve aos seus usuários somente se
respeita sua liberdade. E se o software for projetado para acorrentar seus
usuários? Então, ser poderoso significa que as correntes são mais
constritivas e ser confiável significa que elas são mais difíceis de
remover. Características maliciosas, tais como espionar os usuários,
restringir os usuários, <i>backdoors</i>, e imposição de upgrades são comuns
no software proprietário, e alguns mantenedores do código aberto querem
implementá-los nos programas de código aberto.</p>

<p>Sob pressão das companhias de cinema e gravadoras, o software para uso
pessoal é cada vez mais projetado especificamente para limitar os
usuários. Essa característica maliciosa é conhecida como Gestão de
Restrições Digitais (DRM &ndash; do inglês Digital Restrictions Management)
(veja <a href="http://defectivebydesign.org/">DefectiveByDesign.org</a>) e é
a antítese no espírito da liberdade que o software livre visa
proporcionar. E não apenas no espírito: visto que o objetivo do DRM é
esmagar sua liberdade, os desenvolvedores DRM tentam torná-lo mais difícil,
impossível ou ainda ilegal para você mudar o software que implementa o DRM.</p>

<p>Ainda assim, alguns defensores do código aberto têm proposto software “DRM
código aberto”. Sua ideia é que, mediante a publicação do código-fonte dos
programas desenvolvidos para restringir seu acesso à mídia criptografada e
ao permitir que outros mudem o programa, irão produzir um software mais
poderoso e confiável para limitar usuários como você. O software seria então
distribuído a você em aparelhos que não lhe permitem modificações.</p>

<p>Esse software pode ser de código aberto e usar o modelo de desenvolvimento
do código aberto, mas ele não será software livre, visto que ele não
respeitará a liberdade dos usuários que de fato o rodarão. Se o modelo de
desenvolvimento de código aberto obter êxito em tornar esse software mais
poderoso e confiável ao limitar você, isso o tornará ainda pior.</p>

<h3>Medo da Liberdade</h3>

<p>A principal motivação inicial daqueles que se desligaram do movimento do
software livre e criaram o empreendimento do código aberto era que as ideias
éticas de “software livre” deixavam algumas pessoas receosas. É verdade:
levantar questões éticas como liberdade e falar sobre responsabilidade, bem
como conveniência, é pedir às pessoas que pensem sobre coisas que elas podem
preferir ignorar, como, por exemplo, sobre se sua conduta é ética. Isso pode
desencadear desconforto e algumas pessoas poderão simplesmente fechar suas
mentes. Mas daí não resulta que devamos parar de falar dessas questões.</p>

<p>Isso é, entretanto, o que os líderes do código aberto decidiram fazer. Eles
concluíram que calando-se a respeito da ética e da liberdade, e apenas
falando sobre os benefícios práticos imediatos de certo software livre, eles
poderiam “vender” o software de maneira mais eficaz a certos usuários,
especialmente a empresas.</p>

<p>Quando proponentes de código aberto falam sobre qualquer coisa mais profunda
que isso, geralmente é a ideia de fazer do código-fonte um “presente” para a
humanidade. Apresentar isso como uma espécie de boa ação, além do que é
moralmente exigido, presume que distribuir software sem um código-fonte é
moralmente legítimo.</p>

<p>Essa abordagem se mostrou efetiva, em seus próprios termos. A retórica do
código aberto tem convencido muitos empresários e indivíduos a usar, e ainda
desenvolver, software livre, o que tem estendido nossa comunidade &ndash;
porém, apenas em um nível superficial, prático. A filosofia do código
aberto, com seus valores puramente práticos, impede a compreensão das ideias
profundas do software livre; ela traz muitos pessoas à nossa comunidade,
porém não as ensina a defendê-la. Isso é bom até certo ponto, mas não é o
bastante para assegurar a liberdade. Atrair usuários para o software livre
os leva apenas até parte do caminho de se tornar defensores da própria
liberdade.</p>

<p>Mais cedo ou mais tarde esses usuários serão convidados para voltar ao
software proprietário por alguma vantagem prática. Incontáveis companhias
procuram oferecer tal tentação, algumas até mesmo oferecendo cópias
grátis. Por que os usuários rejeitariam? Apenas se houvessem aprendido a
valorizar a liberdade que o software livre lhes dá, o valor da liberdade em
si mesma, ao invés de conveniência técnica e prática de softwares livres
específicos. Para espalhar essa ideia, nós temos que falar sobre
liberdade. Um pouco da abordagem “silenciosa” ao conversar com empresas pode
ser útil para a comunidade, mas é perigoso se ela se torne tão comum que o
amor pela liberdade passe a ser visto como uma excentricidade.</p>

<p>Essa situação perigosa é exatamente o que temos. Muitas pessoas envolvidas
com software livre, especialmente seus distribuidores, falam muito pouco
sobre liberdade &ndash; geralmente porque eles visam ser “mais aceitáveis
para o comércio”. Quase todas as distribuições GNU/Linux adicionam pacotes
proprietários ao sistema livre básico, e eles convidam os usuários a
considerar isso uma vantagem, ao invés de uma falha.</p>

<p>Software proprietário adicional e distribuições GNU/Linux parcialmente não
livres encontram campo fértil porque boa parte de nossa comunidade não
insiste na liberdade em seu software. Isso não é coincidência. A maioria dos
usuários GNU/Linux foram introduzidos ao sistema por meio da discussão do
“código aberto”, que não diz que a liberdade é um objetivo. As práticas que
não apoiam a liberdade e as palavras que não versam sobre liberdade estão de
mãos dadas, uma promovendo a outra. Para superar essa tendência, nós
precisamos de mais, não de menos, discussões sobre liberdade.</p>

<h3>“FLOSS” e “FOSS”</h3>

<p> Os termos “FLOSS” e “FOSS” costumavam ser <a
href="/philosophy/floss-and-foss.html">neutros entre software livre e código
aberto</a>. Se neutralidade é o objetivo, “FLOSS” é o melhor dos
dois. Porém, se você deseja apoiar a liberdade, usar um termo neutro não é o
caminho. Defender a liberdade significa mostrar para as pessoas que você
apoia a liberdade.</p>

<h3>Rivais de ideias</h3>

<p>“Livre” e “aberto” são rivais em ideias. “Software livre” e “código aberto”
são ideias diferentes mas, na forma que a maioria das pessoas estão vendo os
softwares, elas competem pelo mesmo espaço conceitual. Quando pessoas se
habituam a dizer e pensar “código aberto”, isso é um obstáculo para
compreender a filosofia do movimento de software livre e pensar sobre
isso. Se elas já nos associaram e nossos softwares com a palavra “aberto”,
nós podemos precisar dar um choque intelectual antes que eles reconheçam que
nós apoiamos alguma <em>outra</em> coisa. Qualquer atividade que promove a
palavra “aberto” tende a estender a cortina que oculta as ideias do
movimento de software livre.</p>

<p>Então, ativistas de software livre são aconselhados a negar trabalhar em uma
atividade que se denomina “aberto”. Mesmo se a atividade seja boa, toda
contribuição que você faz prejudica um pouco no sentido de promover a ideia
de código aberto. Há muitas outras atividades boas que se autodenominam
“livre” ou “libre”. Cada contribuição para estes projetos faz um bem extra
neste sentido. Com tantos projetos úteis para escolher, por que não escolher
aqueles que fazem um bem extra?</p>

<h3>Conclusão</h3>

<p>Na medida em que os defensores do código aberto atraem novos usuários a
nossa comunidade, nós, ativistas do software livre, devemos assumir a tarefa
de trazer a questão da liberdade à sua atenção. Nós temos que dizer: “Isso é
software livre e dá a você liberdade”, mais e mais alto do que nunca. Toda
vez que você diz “software livre”, ao invés de “código aberto”, você ajuda
nossa causa.</p>

</div>

<h4>Nota</h4>

<!-- The article is incomplete (#793776) as of 21st January 2013.
<p>

Joe Barr's article, 
<a href="http://www.itworld.com/LWD010523vcontrol4">&ldquo;Live and
let license,&rdquo;</a> gives his perspective on this issue.</p>
-->
<p>
O artigo de Lakhani e Wolf sobre <a
href="http://ocw.mit.edu/courses/sloan-school-of-management/15-352-managing-innovation-emerging-trends-spring-2005/readings/lakhaniwolf.pdf">a
motivação dos desenvolvedores de software livre</a> diz que uma fração
considerável é motivada pela visão de que o software deve ser livre, a
despeito do fato de que eles entrevistaram desenvolvedores no SourceForge,
um site que não defende a visão de que essa é uma questão ética.</p>

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<b>Tradução:</b> Thiago Carreira <a
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Rafael Fontenelle <a
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