From 1ae0306a3cf2ea27f60b2d205789994d260c2cce Mon Sep 17 00:00:00 2001 From: Christian Grothoff Date: Sun, 11 Oct 2020 13:29:45 +0200 Subject: add i18n FSFS --- .../articles/br/open-source-misses-the-point.html | 514 +++++++++++++++++++++ 1 file changed, 514 insertions(+) create mode 100644 talermerchantdemos/blog/articles/br/open-source-misses-the-point.html (limited to 'talermerchantdemos/blog/articles/br/open-source-misses-the-point.html') diff --git a/talermerchantdemos/blog/articles/br/open-source-misses-the-point.html b/talermerchantdemos/blog/articles/br/open-source-misses-the-point.html new file mode 100644 index 0000000..4487a4f --- /dev/null +++ b/talermerchantdemos/blog/articles/br/open-source-misses-the-point.html @@ -0,0 +1,514 @@ + + + + + + +Por que o Código Aberto não compartilha dos objetivos do Software Livre - +Projeto GNU - Free Software Foundation + + + +

Por que o Código Aberto não compartilha dos objetivos do Software Livre

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por Richard Stallman
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+Os termos “software livre” e “código aberto” representam quase a mesma gama +de programas. No entanto, eles dizem coisas profundamente diferentes sobre +esses programas, com base em valores diferentes. O movimento do software +livre faz campanha pela liberdade para os usuários da computação; é um +movimento pela liberdade e pela justiça. Por outro lado, a ideia de código +aberto valoriza principalmente a vantagem prática e não faz campanha por +princípios. É por isso que não concordamos com o código aberto e não usamos +esse termo. +

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Quando dizemos que um software é “livre”, queremos dizer que ele respeita as +liberdades essenciais dos usuários: a +liberdade de executá-lo, de estudá-lo e mudá-lo, e redistribuir cópias com +ou sem mudanças. Isso é uma questão de liberdade, não de preço – pense +em “liberdade de expressão”, não em “cerveja grátis”.

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Essas liberdades são vitalmente importantes. Elas são essenciais não apenas +para os propósitos individuais dos usuários, mas para a sociedade como um +todo, pois elas promovem solidariedade social – isto é, +compartilhamento e cooperação. Elas se tornam ainda mais importantes à +medida que nossa cultura e atividades cotidianas se tornam mais +digitalizadas. Num mundo de sons, imagens e palavras digitais, o software +livre se torna essencial para a liberdade em geral.

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Dezenas de milhões de pessoas no mundo atualmente usam software livre; as +escolas públicas de algumas regiões da Índia e da Espanha ensinam todos seus +estudantes a usar o sistema operacional +livre GNU/Linux. Muitos desses usuários, contudo, nunca ouviram sobre as +razões éticas pelas quais nós desenvolvemos esse sistema e construímos a +comunidade do software livre, devido ao fato de que hoje em dia esse sistema +e comunidade são muito frequentemente divulgados como “código aberto”, +atribuindo a eles uma filosofia diferente, na qual essas liberdades +dificilmente são mencionadas.

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O movimento do software livre tem lutado pela liberdade dos usuários de +computador desde 1983. Em 1984 nós iniciamos o desenvolvimento do sistema +operacional livre GNU para que pudéssemos evitar os sistemas operacionais +proprietários (não livres) que negam liberdade aos seus usuários. Durante os +anos 80, nós desenvolvemos boa parte dos componentes essenciais do sistema e +criamos a Licença Pública Geral GNU (GNU +GPL) para lançá-los – uma licença especificamente projetada para +proteger a liberdade de todos os usuários de um programa.

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Nem todos os usuários e desenvolvedores de software livre concordaram com os +objetivos do movimento do software livre. Em 1998, uma parte da comunidade +do software livre se separou e iniciou uma campanha em nome do “código +aberto”. O termo foi originalmente proposto com a finalidade de evitar uma +possível confusão com o termo “software livre”, porém logo se tornou +associado a visões filosóficas bem diferentes daquelas do movimento do +software livre.

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Alguns dos partidários do código aberto consideram o termo uma “campanha de +marketing pelo software livre”, que apela aos empresários ao salientar os +benefícios práticos do software, ao mesmo tempo que não levanta questões +sobre certo e errado que eles podem não querer ouvir. Outros partidários +rejeitam terminantemente os valores éticos e sociais do movimento do +software livre. Quaisquer que sejam seus pontos de vista, na campanha pelo +código aberto, eles não citam nem advogam esses valores. O termo “código +aberto” se tornou rapidamente associado a ideias e argumentos baseados +apenas em valores práticos, tais como criar ou ter software poderoso e +confiável. A maioria dos partidários do código aberto tem feito isso desde +então, e fazem a mesma associação. A maioria das discussões sobre “código +aberto” não presta atenção ao certo e ao errado, apenas à popularidade e ao +sucesso; aqui está um exemplo +típico. Uma minoria de defensores do código aberto hoje em dia diz que a +liberdade é parte da questão, mas eles não são muito visíveis entre os +muitos que não o fazem.

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Os dois termos descrevem quase a mesma categoria de software, porém eles +referem-se a visões baseadas em valores fundamentalmente diferentes. Para o +movimento do software livre, o software livre é um imperativo ético, com +respeito essencial à liberdade dos usuários. Em contrapartida, a filosofia +do código aberto considera os problemas em termos de como tornar o software +“melhor” – e, um sentido prático apenas. Ela diz que o software não +livre é uma solução inferior para o problema prático em questão.

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Para o movimento do software livre, contudo, o software não livre é um +problema social e a solução é parar de usá-lo e migrar para o software +livre.

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“Software livre”. “Código aberto”. Se é o mesmo software (ou quase), realmente importa +que nome você usa? Sim, porque palavras diferentes exprimem ideias +diferentes. Embora um programa livre daria a você a mesma liberdade hoje por +qualquer outro nome, estabelecer a liberdade de forma duradoura depende +sobretudo de ensinar as pessoas a valorizar a liberdade. Se você quer ajudar +nesse sentido, é essencial falar em “software livre”.

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Nós do movimento do software livre não vemos o código aberto como um +empreendimento inimigo; o inimigo é o software (não livre) +proprietário. Porém, nós queremos que as pessoas saibam que apoiamos a +liberdade, por isso não aceitamos ser rotulados erroneamente como apoiadores +do código aberto. O que defendemos não é “código aberto” e o que nos opomos +não é “código fechado”. Para deixar isso claro, evitamos usar esses termos. +

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Diferenças práticas entre Software Livre e Código Aberto

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Na prática, o código aberto apoia critérios um pouco mais flexíveis que os +do software livre. Até onde sabemos, todos os códigos abertos de software +livre lançados se qualificariam como código aberto. Quase todos os softwares +de código aberto são software livre, mas há exceções. Primeiro, algumas +licenças de código aberto são restritivas demais, de forma que elas não se +qualificam como licenças livres. Por exemplo, a “Open Watcom” é não livre +porque sua licença não permite fazer uma versão modificada e usá-la +privativamente. Por sorte, poucos programas usam tais licenças.

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Em segundo lugar, quando o código-fonte de um programa carrega uma licença +fraca, uma sem copyleft, seus executáveis podem conter condições adicionais +não livres. A Microsoft faz +isso com o Visual Studio, por exemplo.

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Se esses executáveis corresponderem totalmente aos fontes lançados, eles se +qualificam como código aberto, mas não como software livre. No entanto, +nesse caso, os usuários podem compilar o código-fonte para criar e +distribuir executáveis livres.

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Finalmente, e mais importante na prática, muitos produtos contendo +computadores verificam assinaturas em seus programas executáveis para +bloquear usuários de instalar executáveis; apenas uma empresa privilegiada +pode fazer executáveis que funcionem no dispositivo e que possa acessar toda +sua capacidade. Nós chamamos esses dispositivos de “tiranos”, e a prática é +chamada de “tivoização” em referência ao produto (Tivo) através do qual nós +vimos isto pela primeira vez. Mesmo que o executável tenha sido feito de +código aberto, e nominalmente carrega uma licença livre, os usuários não +podem executar versões modificadas dele, motivo pelo qual o executável é não +livre de-facto.

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Muitos produtos Android contêm executáveis tivoizados não livres do Linux, +mesmo que seu código-fonte esteja sob a versão 2 da GNU GPL. Projetamos a +versão 3 da GNU GPL para proibir essa prática.

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Os critérios de código aberto se preocupam unicamente com o licenciamento do +código aberto. Então, esses executáveis não livres, quando feitos a partir +de código aberto como o Linux, que é um código aberto e livre, são códigos +abertos, porém não livres.

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Enganos comuns em relação ao “Software Livre” e “Código Aberto”

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O termo “software livre” está propenso a interpretação errada: o sentido não +intencional de “software que você pode adquirir a custo zero” se encaixa ao +termo tão bem quanto o sentido intencional, “software que dá ao usuário +certas liberdades”. Nós resolvemos esse problema ao publicarmos a definição +de software livre e ao dizer “Pense em ‘liberdade de expressão’, não em +‘cerveja grátis’”. Essa não é uma solução perfeita; ela não elimina +completamente o problema. Um termo não ambíguo e correto seria melhor, se +ele não apresentasse outros problemas.

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Infelizmente, todas as alternativas na língua inglesa têm problemas +próprios. Temos avaliado as muitas sugestões propostas pelas pessoas, mas +nenhuma é tão claramente “adequada” que mudar para ela seria uma boa +ideia. (Por exemplo, em alguns contexto, a palavra “libre” do Francês e do +Espanhol funciona bem, porém as pessoas da Índia não a reconhecem de forma +alguma.) Todas as substituições propostas para “software livre” trazem algum +tipo de problema semântico – e isso inclui “software de código +aberto”.

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A definição oficial de “software de +código aberto” (que foi publicada pela Open Source Initiative e é longa +demais para ser incluída aqui) foi indiretamente derivada dos nossos +critérios para o software livre. Ela não é igual; é um pouco mais ampla em +alguns aspectos. Não obstante, a definição deles concorda com a nossa na +maioria dos casos.

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Contudo, o sentido óbvio para a expressão “software de código aberto” +– e o único que boa parte das pessoas parece considerar — é +“Você pode dar uma olhada no código-fonte”. Esse critério é mais fraco do +que a definição de software livre e mais fraco também do que a definição +oficial de código aberto, pois isso inclui muitos programas que não são nem +livres nem código aberto.

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Visto que o sentido óbvio para “código aberto” não é o mesmo que seus +defensores intencionam, o resultado é que muitas pessoas interpretam mau o +termo. De acordo com o escritor Neal Stephenson, “o Linux é um software de +‘código aberto’, o que significa, simplesmente, que qualquer um pode obter +cópias de seus arquivos de código-fonte”. Eu não acho que ele +deliberadamente procurou rejeitar ou contestar a definição “oficial”. Eu +penso que ele simplesmente aplicou as convenções da língua inglesa para +encontrar um sentido para o termo. O estado +do Kansas publicou uma definição similar: “Fazer uso de software de +código-aberto (OSS). OSS é o software para o qual o código-fonte é livre e +disponibilizado publicamente, porém os acordos de licenciamento específicos +variam quanto ao que é permitido se fazer com o código”.

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O New York Times publicou +um artigo que estende o sentido do termo para se referir a testes beta +de usuário – deixar que alguns usuários testem uma versão inicial e +enviem feedback confidencial — que os desenvolvedores de software +proprietário têm praticado por décadas.

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O termo foi estendido até mesmo para incluir projetos para equipamento que +estão publicados +sem uma patente. Projetos de equipamentos sem patentes podem ser +contribuições louváveis para a sociedade, porém o termo “código aberto” não +se aplica a eles.

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Os partidários do código aberto tentam lidar com isso chamando atenção para +sua definição oficial, mas essa abordagem corretiva é menos efetiva para +eles do que para nós. O termo “software livre” tem dois sentidos naturais, +um dos quais é o sentido intencional; assim uma pessoa que tenha captado a +ideia de “liberdade de expressão, não cerveja grátis” não errará +novamente. Porém, o termo “código aberto” tem apenas um sentido natural, que +é diferente do sentido que seus partidários tinham em mente. Assim, não há +modo sucinto de explicar e justificar sua definição oficial – o que +torna a confusão pior.

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Outro engano sobre o “código aberto” é a ideia que ele significa “não usando +a GNU GPL”. Esse engano tende a acompanhar outro mal-entendido que “software +livre” significa “software coberto pela GPL”. Ambos são equívocos, visto que +a GNU GPL qualifica-se como uma licença código aberto e a maioria das +licenças de código aberto qualificam-se como licenças de software livre. Há +muitas licenças de software livre +além da GNU GPL.

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O termo “código aberto” tem sido adicionalmente estendido por sua aplicação +a outras atividades, tais como governo, educação e ciência, onde não existe +código-fonte e onde os critérios para licenciamento de software são +simplesmente não pertinentes. A única coisa que essas atividades têm em +comum é que elas, de alguma forma, convidam as pessoas a participar. Eles +estenderam tanto o termo que ele apenas significa “participativo” ou +“transparente”, ou menos que isso. Na pior das hipóteses, ele se tornou +um termo vazio na moda.

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Valores diferentes podem levar a conclusões similares – mas nem sempre

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Grupos radicais da década de 1960 tinham a reputação de faccionalistas: +algumas organizações dividiram-se devido a desacordos sobre detalhes de +estratégia e os dois grupos criados tratavam-se um ao outro como inimigos, a +despeito de terem valores e objetivos básicos similares. A ala direita fez +muito caso disso e usou isso para criticar toda a ala esquerda.

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Alguns tentam rebaixar o movimento do software livre ao comparar nosso +desacordo com o código aberto ao desacordo de outros grupos radicais, mas a +verdade é outra. Nós discordamos com a campanha do código aberto no que +concerne aos valores e objetivos básicos, mas tanto a visão deles quanto a +nossa, em muitos casos, levam ao mesmo comportamento prático – tal +como desenvolver software livre.

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Como consequência, pessoas do movimento do software livre e pessoas do +código aberto frequentemente trabalham juntas em projetos práticos, tal como +o desenvolvimento de software. É digno de nota que essas diferentes visões +filosóficas podem às vezes motivar diferentes pessoas a participar nos +mesmos projetos. No entanto, há situações em que essas visões +fundamentalmente diferentes levam a ações muito diferentes.

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A ideia do código aberto é que permitir aos usuários mudar e redistribuir o +software irá torná-lo mais poderoso e confiável. Porém, isso não é +garantido. Desenvolvedores de software proprietário não são necessariamente +incompetentes. Às vezes, eles produzem um programa que é poderoso e +confiável, ainda que ele não respeite a liberdade dos usuários. Os ativistas +do software livre e entusiastas do código aberto irão reagir de modo bem +diferente a isso.

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Um puro entusiasta do código aberto, alguém que absolutamente não é +influenciado pelos ideias do software livre, dirá: “Eu estou surpreso que +você conseguiu fazer um programa rodar tão bem sem usar nosso modelo de +desenvolvimento, mas você conseguiu. Como obtenho uma cópia?”. Essa atitude +recompensará esquemas que tiram nossa liberdade, levando à sua perda.

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Um ativista do software livre dirá: “Seu programa é muito atrativo, porém, +eu valorizo mais a minha liberdade. Sendo assim, eu rejeito seu programa. Eu +criarei minha obra de outra forma, e apoiarei um projeto para desenvolver um +substituto livre”. Se nós valorizamos nossa liberdade, nós podemos agir para +mantê-la e defendê-la.

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Software poderoso e confiável pode ser ruim

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A ideia que desejamos que o software seja poderoso e confiável advém da +suposição de que o software está designado para servir seus usuários. Se ele +é poderoso e confiável, isso significa que ele os serve melhor.

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Porém, pode-se dizer que o software serve aos seus usuários somente se +respeita sua liberdade. E se o software for projetado para acorrentar seus +usuários? Então, ser poderoso significa que as correntes são mais +constritivas e ser confiável significa que elas são mais difíceis de +remover. Características maliciosas, tais como espionar os usuários, +restringir os usuários, backdoors, e imposição de upgrades são comuns +no software proprietário, e alguns mantenedores do código aberto querem +implementá-los nos programas de código aberto.

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Sob pressão das companhias de cinema e gravadoras, o software para uso +pessoal é cada vez mais projetado especificamente para limitar os +usuários. Essa característica maliciosa é conhecida como Gestão de +Restrições Digitais (DRM – do inglês Digital Restrictions Management) +(veja DefectiveByDesign.org) e é +a antítese no espírito da liberdade que o software livre visa +proporcionar. E não apenas no espírito: visto que o objetivo do DRM é +esmagar sua liberdade, os desenvolvedores DRM tentam torná-lo mais difícil, +impossível ou ainda ilegal para você mudar o software que implementa o DRM.

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Ainda assim, alguns defensores do código aberto têm proposto software “DRM +código aberto”. Sua ideia é que, mediante a publicação do código-fonte dos +programas desenvolvidos para restringir seu acesso à mídia criptografada e +ao permitir que outros mudem o programa, irão produzir um software mais +poderoso e confiável para limitar usuários como você. O software seria então +distribuído a você em aparelhos que não lhe permitem modificações.

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Esse software pode ser de código aberto e usar o modelo de desenvolvimento +do código aberto, mas ele não será software livre, visto que ele não +respeitará a liberdade dos usuários que de fato o rodarão. Se o modelo de +desenvolvimento de código aberto obter êxito em tornar esse software mais +poderoso e confiável ao limitar você, isso o tornará ainda pior.

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Medo da Liberdade

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A principal motivação inicial daqueles que se desligaram do movimento do +software livre e criaram o empreendimento do código aberto era que as ideias +éticas de “software livre” deixavam algumas pessoas receosas. É verdade: +levantar questões éticas como liberdade e falar sobre responsabilidade, bem +como conveniência, é pedir às pessoas que pensem sobre coisas que elas podem +preferir ignorar, como, por exemplo, sobre se sua conduta é ética. Isso pode +desencadear desconforto e algumas pessoas poderão simplesmente fechar suas +mentes. Mas daí não resulta que devamos parar de falar dessas questões.

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Isso é, entretanto, o que os líderes do código aberto decidiram fazer. Eles +concluíram que calando-se a respeito da ética e da liberdade, e apenas +falando sobre os benefícios práticos imediatos de certo software livre, eles +poderiam “vender” o software de maneira mais eficaz a certos usuários, +especialmente a empresas.

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Quando proponentes de código aberto falam sobre qualquer coisa mais profunda +que isso, geralmente é a ideia de fazer do código-fonte um “presente” para a +humanidade. Apresentar isso como uma espécie de boa ação, além do que é +moralmente exigido, presume que distribuir software sem um código-fonte é +moralmente legítimo.

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Essa abordagem se mostrou efetiva, em seus próprios termos. A retórica do +código aberto tem convencido muitos empresários e indivíduos a usar, e ainda +desenvolver, software livre, o que tem estendido nossa comunidade – +porém, apenas em um nível superficial, prático. A filosofia do código +aberto, com seus valores puramente práticos, impede a compreensão das ideias +profundas do software livre; ela traz muitos pessoas à nossa comunidade, +porém não as ensina a defendê-la. Isso é bom até certo ponto, mas não é o +bastante para assegurar a liberdade. Atrair usuários para o software livre +os leva apenas até parte do caminho de se tornar defensores da própria +liberdade.

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Mais cedo ou mais tarde esses usuários serão convidados para voltar ao +software proprietário por alguma vantagem prática. Incontáveis companhias +procuram oferecer tal tentação, algumas até mesmo oferecendo cópias +grátis. Por que os usuários rejeitariam? Apenas se houvessem aprendido a +valorizar a liberdade que o software livre lhes dá, o valor da liberdade em +si mesma, ao invés de conveniência técnica e prática de softwares livres +específicos. Para espalhar essa ideia, nós temos que falar sobre +liberdade. Um pouco da abordagem “silenciosa” ao conversar com empresas pode +ser útil para a comunidade, mas é perigoso se ela se torne tão comum que o +amor pela liberdade passe a ser visto como uma excentricidade.

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Essa situação perigosa é exatamente o que temos. Muitas pessoas envolvidas +com software livre, especialmente seus distribuidores, falam muito pouco +sobre liberdade – geralmente porque eles visam ser “mais aceitáveis +para o comércio”. Quase todas as distribuições GNU/Linux adicionam pacotes +proprietários ao sistema livre básico, e eles convidam os usuários a +considerar isso uma vantagem, ao invés de uma falha.

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Software proprietário adicional e distribuições GNU/Linux parcialmente não +livres encontram campo fértil porque boa parte de nossa comunidade não +insiste na liberdade em seu software. Isso não é coincidência. A maioria dos +usuários GNU/Linux foram introduzidos ao sistema por meio da discussão do +“código aberto”, que não diz que a liberdade é um objetivo. As práticas que +não apoiam a liberdade e as palavras que não versam sobre liberdade estão de +mãos dadas, uma promovendo a outra. Para superar essa tendência, nós +precisamos de mais, não de menos, discussões sobre liberdade.

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“FLOSS” e “FOSS”

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Os termos “FLOSS” e “FOSS” costumavam ser neutros entre software livre e código +aberto. Se neutralidade é o objetivo, “FLOSS” é o melhor dos +dois. Porém, se você deseja apoiar a liberdade, usar um termo neutro não é o +caminho. Defender a liberdade significa mostrar para as pessoas que você +apoia a liberdade.

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Rivais de ideias

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“Livre” e “aberto” são rivais em ideias. “Software livre” e “código aberto” +são ideias diferentes mas, na forma que a maioria das pessoas estão vendo os +softwares, elas competem pelo mesmo espaço conceitual. Quando pessoas se +habituam a dizer e pensar “código aberto”, isso é um obstáculo para +compreender a filosofia do movimento de software livre e pensar sobre +isso. Se elas já nos associaram e nossos softwares com a palavra “aberto”, +nós podemos precisar dar um choque intelectual antes que eles reconheçam que +nós apoiamos alguma outra coisa. Qualquer atividade que promove a +palavra “aberto” tende a estender a cortina que oculta as ideias do +movimento de software livre.

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Então, ativistas de software livre são aconselhados a negar trabalhar em uma +atividade que se denomina “aberto”. Mesmo se a atividade seja boa, toda +contribuição que você faz prejudica um pouco no sentido de promover a ideia +de código aberto. Há muitas outras atividades boas que se autodenominam +“livre” ou “libre”. Cada contribuição para estes projetos faz um bem extra +neste sentido. Com tantos projetos úteis para escolher, por que não escolher +aqueles que fazem um bem extra?

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Conclusão

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Na medida em que os defensores do código aberto atraem novos usuários a +nossa comunidade, nós, ativistas do software livre, devemos assumir a tarefa +de trazer a questão da liberdade à sua atenção. Nós temos que dizer: “Isso é +software livre e dá a você liberdade”, mais e mais alto do que nunca. Toda +vez que você diz “software livre”, ao invés de “código aberto”, você ajuda +nossa causa.

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Nota

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+O artigo de Lakhani e Wolf sobre a +motivação dos desenvolvedores de software livre diz que uma fração +considerável é motivada pela visão de que o software deve ser livre, a +despeito do fato de que eles entrevistaram desenvolvedores no SourceForge, +um site que não defende a visão de que essa é uma questão ética.

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+ + + + + + + + -- cgit v1.2.3