From 1ae0306a3cf2ea27f60b2d205789994d260c2cce Mon Sep 17 00:00:00 2001 From: Christian Grothoff Date: Sun, 11 Oct 2020 13:29:45 +0200 Subject: add i18n FSFS --- .../blog/articles/br/free-digital-society.html | 1180 ++++++++++++++++++++ 1 file changed, 1180 insertions(+) create mode 100644 talermerchantdemos/blog/articles/br/free-digital-society.html (limited to 'talermerchantdemos/blog/articles/br/free-digital-society.html') diff --git a/talermerchantdemos/blog/articles/br/free-digital-society.html b/talermerchantdemos/blog/articles/br/free-digital-society.html new file mode 100644 index 0000000..c6de518 --- /dev/null +++ b/talermerchantdemos/blog/articles/br/free-digital-society.html @@ -0,0 +1,1180 @@ + + + + + + +Uma Sociedade Digital Livre - O Que Torna a Inclusão Digital Boa ou Ruim? - +Projeto GNU - Free Software Foundation + + + +

Uma Sociedade Digital Livre - O Que Torna a Inclusão Digital Boa ou Ruim?

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por Richard Stallman

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Transcrição de uma palestra na Sciences Po Paris, 19 de outubro de +2011  (vídeo)

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Conteúdo

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Introdução

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Projetos com o objetivo de inclusão digital estão fazendo uma grande +suposição. Eles estão presumindo que participar de uma sociedade digital é +bom, mas isso não é necessariamente verdade. Estar em uma sociedade digital +pode ser bom ou ruim, dependendo se a sociedade digital é justa ou +injusta. Há muitas maneiras pelas quais nossa liberdade está sendo atacada +pela tecnologia digital. A tecnologia digital pode piorar as coisas, e será, +a menos que nós lutemos para evitá-lo.

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Portanto, se temos uma sociedade digital injusta, devemos cancelar esses +projetos de inclusão digital e lançar projetos de extração digital. Temos +que extrair pessoas da sociedade digital se ela não respeita sua liberdade, +ou temos que fazer respeitar a liberdade delas.

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Vigilância

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Quais são as ameaças? Primeiro, vigilância. Os computadores são o sonho de +Stalin: são ferramentas ideais para vigilância, porque tudo o que fazemos +com computadores, os computadores podem registrar. Eles podem registrar as +informações em uma forma pesquisável perfeitamente indexada em um banco de +dados central, ideal para qualquer tirano que quer esmagar a oposição.

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Vigilância às vezes é feita com nossos próprios computadores. Por exemplo, +se você tem um computador que executa o Microsoft Windows, esse sistema está +fazendo vigilância. Existem recursos no Windows que enviam dados para algum +servidor, dados sobre o uso do computador. Um recurso de vigilância foi +descoberto no iPhone há alguns meses, e as pessoas começaram a chamá-lo de +“spy-phone”. O Flash Player também tem um recurso de vigilância, assim como +o Amazon “Swindle”. Eles chamam isso de Kindle, mas eu chamo de “o Swindle”, l'escroc, porque é feito para roubar a liberdade das pessoas +que o usam. Faz com que as pessoas se identifiquem sempre que compram um +livro, e isso significa que a Amazon tem uma lista gigantesca de todos os +livros que cada pessoa leu. Essa lista não deve existir em nenhum lugar.

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A maioria dos telefones portáteis transmitirá sua localização, computada +usando GPS, no comando remoto. A companhia telefônica está acumulando uma +lista gigantesca de lugares que a pessoa esteve. Um deputado alemão do +Partido Verde [correção: Malte Spitz está na equipe do Partido Verde, não +uma autoridade eleita] pediu à companhia telefônica que lhe desse os dados +que tinha sobre onde ele estava. Ele teve que processar, ele teve que ir ao +tribunal para obter essa informação. E quando ele conseguiu, ele recebeu +quarenta e quatro mil pontos de localização por um período de seis meses! +Isso é mais do que duzentos por dia! O que isso significa é que alguém +poderia formar uma imagem muito boa de suas atividades apenas observando +esses dados.

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Podemos impedir nossos próprios computadores de vigiarem a gente se +nós tivermos o controle do software que eles executam. Mas o +software que essas pessoas estão usando, elas não têm o controle. É um +software não livre e é por isso que possui recursos maliciosos, como +vigilância. No entanto, a vigilância nem sempre é feita com nossos próprios +computadores, também é feita de uma só vez. Por exemplo, os ISPs na Europa +são obrigados a manter os dados sobre as comunicações da Internet do usuário +por um longo tempo, caso o Estado decida investigar essa pessoa mais tarde +por qualquer motivo imaginável.

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Com um telefone portátil… Mesmo que você consiga impedir que o +telefone transmita sua localização GPS, o sistema pode determinar a +localização do telefone aproximadamente, comparando o tempo em que os sinais +chegam a torres diferentes. Assim, o sistema de telefonia pode fazer a +vigilância mesmo sem uma cooperação especial do próprio telefone.

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Da mesma forma, as bicicletas que as pessoas alugam em Paris. É claro que o +sistema sabe onde você pega a bicicleta e sabe onde você devolve a +bicicleta, e eu ouvi relatos de que ela rastreia as bicicletas enquanto elas +estão se movendo também. Então eles não são algo que podemos realmente +confiar.

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Mas também existem sistemas que nada têm a ver conosco que existem apenas +para rastreamento. Por exemplo, no Reino Unido, todas as viagens de carro +são monitoradas. Os movimentos de cada carro estão sendo gravados em tempo +real e podem ser rastreados pelo Estado em tempo real. Isso é feito com +câmeras nas laterais da estrada.

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Agora, a única maneira de impedir a vigilância que é feita de uma só vez ou +por sistemas não relacionados é através de ação política contra o aumento do +poder do governo para rastrear e monitorar todo mundo, o que significa que +temos que rejeitar qualquer desculpa que eles inventarem. Por fazer tais +sistemas, nenhuma desculpa é válida – para monitorar todo mundo.

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Em uma sociedade livre, quando você sai em público, não está garantido o +anonimato. É possível que alguém o reconheça e lembre. E depois essa pessoa +poderia dizer que te viu em um determinado lugar. Mas essa informação é +difusa. Não está convenientemente montada para rastrear todo mundo e +investigar o que fizeram. Para coletar essa informação é muito trabalho, por +isso só é feito em casos especiais, quando é necessário.

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Mas a vigilância informatizada torna possível centralizar e indexar todas +essas informações para que um regime injusto possa encontrar tudo e +descobrir tudo sobre todos. Se um ditador assume o poder, o que poderia +acontecer em qualquer lugar, as pessoas percebem isso e reconhecem que não +devem se comunicar com outros dissidentes de uma maneira que o Estado possa +descobrir. Mas se o ditador tem vários anos de registros armazenados de quem +fala com quem, é tarde demais para tomar qualquer precaução, porque ele já +tem tudo o que precisa para perceber: “OK, esse cara é um dissidente, e ele +falou com ele. Talvez ele seja um dissidente também. Talvez devêssemos +agarrá-lo e torturá-lo.”

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Então, precisamos fazer campanha para acabar com a vigilância digital +agora. Você não pode esperar até que haja um ditador e que isso +realmente se torne importante. E além disso, não é preciso uma ditadura +direta para começar a atacar os direitos humanos.

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Eu não chamaria o governo do Reino Unido de ditadura. Não é muito +democrático e, de certa forma, esmaga a democracia. Alguns anos atrás, as +pessoas acreditavam estar a caminho de um protesto, eles iriam protestar, +eles foram presos antes que pudessem chegar lá, porque seu carro foi +rastreado através deste sistema de rastreamento universal de carros.

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Censura

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A segunda ameaça é a censura. A censura não é nova, existia muito antes dos +computadores. Mas há 15 anos, pensávamos que a Internet nos protegeria da +censura, que derrotaria a censura. Então, a China e algumas outras tiranias +óbvias fizeram grandes esforços para impor a censura na Internet, e +dissemos: “Bem, isso não é surpreendente, o que mais governos assim poderiam +fazer?”

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Mas hoje vemos a censura imposta em países que normalmente não são +considerados ditaduras, como, por exemplo, o Reino Unido, a França, a +Espanha, a Itália, a Dinamarca…

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Todos eles têm sistemas de bloqueio de acesso a alguns sites. A Dinamarca +estabeleceu um sistema que bloqueia o acesso a uma longa lista de páginas da +web, que era secreta. Os cidadãos não deveriam saber como o governo os +estava censurando, mas a lista vazou e foi postada no WikiLeaks. Nesse +ponto, a Dinamarca adicionou a página do WikiLeaks à sua lista de +censura. Assim, todo o resto do mundo pode descobrir como os dinamarqueses +estão sendo censurados, mas os dinamarqueses não deveriam saber.

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Há alguns meses, a Turquia, que afirma respeitar alguns direitos humanos, +anunciou que todo usuário da Internet teria que escolher entre censura e +mais censura. Quatro níveis diferentes de censura eles podem escolher! Mas a +liberdade não é uma das opções.

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A Austrália queria impor a filtragem na Internet, mas isso foi bloqueado. No +entanto, a Austrália tem um tipo diferente de censura: tem censura de +links. Ou seja, se um site na Austrália tiver um link para algum site +censurado fora da Austrália, o da Austrália poderá ser punido. A Electronic +Frontiers Australia, que é uma organização que defende os direitos humanos +no domínio digital na Austrália, postou um link para um site político +estrangeiro. Foi ordenado excluir o link ou enfrentar uma multa diária de +US$ 11.000 pelo descumprimento. Então excluíram o link, o que mais poderiam +fazer? Este é um sistema muito duro de censura.

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Na Espanha, a censura que foi adotada no início deste ano permite que as +autoridades fechem arbitrariamente um site da Internet na Espanha ou +imponham uma filtragem para bloquear o acesso a um site fora da Espanha. E +isso pode ser feito sem qualquer tipo de tentativa. Essa foi uma das +motivações para os Indignados, que protestavam na +rua.

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Houve protestos nas ruas da Turquia também, após o anúncio, mas o governo se +recusou a mudar sua política.

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Temos de reconhecer que um país que impõe censura na Internet não é um país +livre. E não é um governo legítimo também.

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Formatos de dados restritos

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A próxima ameaça à nossa liberdade vem de formatos de dados que restringem +usuários e usuárias.

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Às vezes é porque o formato é secreto. Existem muitos programas aplicativos +que salvam os dados do usuário em um formato secreto, o que significa +impedir o usuário de pegar esses dados e usá-los com algum outro programa. O +objetivo é evitar a interoperabilidade.

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Agora, evidentemente, se um programa implementa um formato secreto, isso +ocorre porque o programa não é software livre. Então, esse é outro tipo de +recurso malicioso. Vigilância é um tipo de recurso malicioso que você +encontra em alguns programas não livres; o uso de formatos secretos para +restringir os usuários é outro tipo de recurso malicioso que você também +encontra em alguns programas não livres.

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Mas se você tiver um programa livre que lide com um determinado formato, +ipso facto esse formato não é secreto. Esse tipo de recurso +malicioso só pode existir em um programa não livre. Recursos de vigilância, +bem, teoricamente, eles poderiam existir em um programa livre, mas você não +vê isso acontecendo. Porque as pessoas que o usam consertariam isso, +entende. Elas não gostariam disso, então iriam consertar isso.

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De qualquer forma, também encontramos formatos de dados secretos em uso para +publicação de trabalhos. Você encontra formatos de dados secretos em uso +para áudio, como música, para vídeo, para livros… E esses formatos secretos +são conhecidos como Gestão Digital de Restrições ou DRM, ou algemas digitais (les menottes +numériques).

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Assim, as obras são publicadas em formatos secretos para que somente +programas proprietários possam reproduzi-las, de modo que esses programas +proprietários possam ter o recurso malicioso de restringir seu uso, +impedindo as pessoas de fazer algo que seria natural fazer.

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E isso é usado até mesmo por entidades públicas para se comunicar com as +pessoas. Por exemplo, a televisão pública italiana disponibiliza seus +programas na rede em um formato chamado VC-1, que é um padrão supostamente, +mas é um padrão secreto. Agora não consigo imaginar como uma entidade +financiada com dinheiro público poderia justificar o uso de um formato +secreto para se comunicar com o público. Isso deveria ser ilegal. Na +verdade, acho que todo o uso de Gestão Digital de Restrições deve ser +considerado ilegal. Nenhuma empresa deveria ter permissão para fazer isso.

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Há também formatos que não são secretos, mas quase podem ser secretos, como +o Flash. O Flash não é realmente secreto, mas a Adobe continua fazendo novas +versões, que são diferentes, mais rápidas do que qualquer um pode manter e +fazer software livre para reproduzir esses arquivos; então tem quase o mesmo +efeito de ser secreto.

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Depois, há os formatos patenteados, como o MP31 + para áudio. É ruim distribuir áudio no formato MP3. Há software livre +para lidar com o formato MP3, para reproduzi-lo e gerá-lo, mas como ele é +patenteado em muitos países, muitos distribuidores de software livre não +ousam incluir esses programas; então, se eles distribuem o sistema +GNU+Linux, o sistema deles não inclui um reprodutor de MP3. Como resultado, +se alguém distribui alguma música em MP3, isso pressiona as pessoas a não +usarem o GNU/Linux. Claro, se você é um especialista, você pode encontrar um +software livre e instalá-lo, mas há muitos não especialistas, e eles podem +ver que eles instalaram uma versão do GNU/Linux que não tem esse software, e +ele ganhou não reproduzir arquivos MP3, e eles acham que é culpa do +sistema. Eles não percebem que é culpa do MP3. Mas esse é o fato.

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Portanto, se você quiser dar suporte à liberdade, não distribua arquivos +MP3. É por isso que digo que se você estiver gravando meu discurso e quiser +distribuir cópias, não o faça em um formato patenteado como MPEG-2 ou MPEG-4 +ou MP3. Use um formato amigável ao software livre, como os formatos OGG ou +WebM. E, a propósito, se você vai distribuir cópias da gravação, por favor, +coloque nela a licença Creative Commons, No Derivatives. Esta é uma +declaração das minhas opiniões pessoais. Se fosse uma palestra para um +curso, se fosse didático, então deveria ser livre, mas as declarações de +opinião são diferentes.

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Software que não é livre

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Agora, isso me leva à próxima ameaça que vem do software sobre o qual as +pessoas não têm o controle. Em outras palavras, software que não é livre, +não é libre. Neste ponto particular, o francês é mais claro que +o inglês. A palavra em inglês “free” significa libre e +gratuit, mas o que eu quero dizer quando digo “free” e +“software” é logiciel libre. Eu não quero dizer +gratuit. Eu não estou falando sobre preço. O preço é uma +questão secundária, apenas um detalhe, porque não importa eticamente. Você +sabe, se eu tiver uma cópia de um programa e eu vender para você por um euro +ou cem euros, quem se importa? Certo? Por que alguém deveria pensar que é +bom ou ruim? Ou suponha que eu dei a você gratuitement… +Ainda assim, quem se importa? Mas se este programa respeita a sua liberdade, +isso é importante!

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Portanto, software livre é um software que respeita a liberdade dos +usuários. O que isto significa? Em última análise, existem apenas duas +possibilidades com software: ou os usuários controlam o programa ou o +programa controla os usuários. Se os usuários têm certas liberdades +essenciais, então eles controlam o programa, e essas liberdades são o +critério para o software livre. Mas se os usuários não tiverem as +liberdades essenciais, o programa controlará os usuários. Mas alguém +controla esse programa e, através dele, tem poder sobre os +usuários.

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Então, um programa não livre é um instrumento para dar poder a alguém em +relação a muitas outras pessoas, e esse é um poder injusto que ninguém +deveria ter. É por isso que o software não livre (les logiciels +privateurs, qui privent de la liberté), por isso software +proprietário é uma injustiça e não deveria existir; porque deixa os usuários +sem liberdade.

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Agora, o desenvolvedor que tem o controle do programa geralmente se sente +tentado a introduzir recursos maliciosos para explorar ou abusar mais +ainda esses usuários. Ele sente uma tentação porque sabe que pode se +safar. Como seu programa controla os usuários e os usuários não têm controle +sobre o programa, se ele colocar um recurso malicioso, os usuários não +poderão consertá-lo; eles não podem remover o recurso malicioso.

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Já falei sobre dois tipos de recursos maliciosos: recursos de vigilância, +como os encontrados no Windows e no iPhone e no Flash Player e no Swindle, +mais ou menos. E há também recursos para restringir os usuários, que +trabalham com formatos de dados secretos, e esses são encontrados no +Windows, Macintosh, iPhone, Flash Player, Amazon Swindle, Playstation 3 e +muitos outros programas.

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O outro tipo de recurso malicioso é o backdoor. Isso +significa que algo nesse programa está escutando comandos remotos e +obedecê-los, e esses comandos podem maltratar o usuário. Sabemos de backdoors no Windows, no iPhone, no Amazon Swindle. O Amazon +Swindle tem um backdoor que pode excluir livros, excluir +livros remotamente. Sabemos disso por observação, porque a Amazon fez isso: +em 2009, a Amazon excluiu remotamente milhares de cópias de um determinado +livro. Eram cópias autorizadas, pessoas as tinham obtido diretamente da +Amazon e, portanto, a Amazon sabia exatamente onde estavam, que é como a +Amazon sabia para onde enviar os comandos para excluir esses livros. Você +sabe qual livro a Amazon excluiu? 1984 por George Orwell. [risadas] +É um livro que todos deveriam ler, porque discute um estado totalitário que +fez coisas como excluir livros de que não gostava. Todo mundo deveria ler, +mas não no Amazon Swindle. [risadas]

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De qualquer forma, recursos maliciosos estão presentes nos programas não +livres mais utilizados, mas são raros em software livre, porque com o +software livre os usuários têm controle. Eles podem ler o código-fonte e +podem alterá-lo. Então, se houvesse um recurso malicioso, alguém mais cedo +ou mais tarde o localizaria e consertaria. Isso significa que alguém que +está pensando em introduzir um recurso malicioso não o considera tão +tentador, porque sabe que pode sair ileso por um tempo, mas alguém o +localizará, consertará e perderá a confiança no criminoso. Não é tão +tentador quando você sabe que vai falhar. E é por isso que descobrimos que +recursos maliciosos são raros em software livre e comuns em software +proprietário.

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As quatro liberdades do software livre

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As liberdades essenciais são quatro:

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Essas liberdades, para serem adequadas, devem aplicar-se a todas as +atividades da vida. Por exemplo, se diz “isso é livre para uso acadêmico”, +não é livre. Porque isso é muito limitado. Não se aplica a todas as áreas da +vida. Em particular, se um programa é livre, isso significa que ele pode ser +modificado e distribuído comercialmente, porque o comércio é uma área da +vida, uma atividade na vida. E essa liberdade tem que se aplicar a todas as +atividades.

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No entanto, não é obrigatório fazer nenhuma dessas coisas. O ponto é que +você é livre para fazê-las, se desejar, quando desejar. Mas você nunca +precisa fazer isso. Você não precisa fazer nada disso. Você não precisa +executar o programa. Você não precisa estudar ou alterar o +código-fonte. Você não precisa fazer nenhuma cópia. Você não precisa +distribuir suas versões modificadas. O ponto é que você deve ser livre para +fazer essas coisas se quiser.

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Agora, a liberdade número 1, a liberdade de estudar e alterar o código-fonte +para fazer com que o programa faça o que você deseja, inclui algo que pode +não ser óbvio no começo. Se o programa vier em um produto e o desenvolvedor +puder fornecer uma atualização que será executada, será necessário fazer com +que sua versão seja executada nesse produto. Se o produto apenas executar as +versões do desenvolvedor e se recusar a executar o seu, o executável nesse +produto não é software livre. Mesmo que tenha sido compilado a partir do +código-fonte livre, não é livre porque você não tem a liberdade de fazer o +programa fazer sua computação da maneira que desejar. Então, a liberdade 1 +tem que ser real, não apenas teórica. Ele tem que incluir a liberdade de +usar a sua versão, não apenas a liberdade de fazer algum +código-fonte que não seja executado.

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O Projeto GNU e o movimento Software Livre

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Eu iniciei o movimento Software Livre em 1983, quando anunciei o plano para +desenvolver um sistema operacional de software livre cujo nome é GNU. Agora +o GNU, o nome GNU, é uma piada; porque parte do espírito do hacker é se +divertir mesmo quando você está fazendo algo muito sério. Agora não +consigo pensar em nada mais importante do que defender a liberdade.

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Mas isso não significa que eu não poderia dar ao meu sistema um nome que é +uma bricadeira. Então, GNU é um jogo de palavras porque é um acrônimo +recursivo, significa “GNU Não é Unix”, de forma que G.N.U.: GNU Não é +Unix. Então, o G no GNU significa GNU.

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Na verdade, isso era uma tradição na época. A tradição era: se houvesse um +programa existente e você escrevesse algo semelhante a ele, inspirado por +ele, você poderia dar crédito, dando ao seu programa um nome que é um +acrônimo recursivo dizendo que não é o outro. Então eu dei crédito ao Unix +pelas ideias técnicas do Unix, mas com o nome GNU, porque eu decidi fazer do +GNU um sistema parecido com o Unix, com os mesmos comandos, o mesmo sistema +chama, então ele seria compatível, então as pessoas que usavam o Unix podiam +mudar facilmente.

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Mas a razão para o desenvolvimento do GNU foi única. O GNU é o único sistema +operacional, até onde eu sei, desenvolvido para o propósito da +liberdade. Não por motivações técnicas, não por motivações comerciais. O GNU +foi escrito para sua liberdade. Porque sem um sistema operacional +livre, é impossível ter liberdade e usar um computador. E não havia nenhum, +e eu queria que as pessoas tivessem liberdade, então era minha +responsabilidade escrever uma.

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Atualmente existem milhões de pessoas usando o sistema operacional GNU e a +maioria delas não sabe que está usando o sistema operacional GNU, porque +existe uma prática generalizada que não é legal. As pessoas chamam o sistema +de “Linux”. Muitos o fazem, mas algumas pessoas não e espero que você seja +um deles. Por favor, desde que começamos com isso, já que escrevemos a maior +parte do código, por favor, nos dê uma menção igual, por favor, chame para o +sistema “GNU+Linux” ou “GNU/Linux”. Não é pedir muito.

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Mas há outro motivo para fazer isso. Acontece que a pessoa que escreveu o +Linux, o qual é um componente do sistema como o usamos hoje, não concorda +com o movimento do Software Livre. E assim, se você chamar todo o sistema de +Linux, na verdade você está direcionando as pessoas para as ideias dele e +para longe das nossas ideias. Porque ele não vai dizer para as pessoas que +elas merecem liberdade. Ele vai dizer a elas que gosta de softwares +convenientes, confiáveis e poderosos. Ele vai dizer às pessoas que esses são +os valores importantes.

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Mas se você disser que o sistema é GNU+Linux – é o sistema operacional +GNU mais o Linux, o kernel – então eles saberão sobre nós, e então as +pessoas poderão ouvir o que dizemos: você merece liberdade. E já que a +liberdade será perdida se não a defendermos – sempre haverá um Sarkozy +para tirá-la – precisamos, acima de tudo, ensinar as pessoas a +exigirem liberdade, estarem prontas para defender sua liberdade na próxima +vez que alguém ameaça tirar isso.

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Hoje em dia, você pode reconhecer as pessoas que não querem discutir essas +ideias de liberdade porque elas não dizem logiciel libre. Elas +não dizem libre, elas dizem “código aberto”. Esse termo foi +cunhado por pessoas como o Sr. Torvalds, que preferiria que essas questões +éticas não fossem levantadas. E assim a maneira que você pode nos ajudar a +levantá-las é dizendo libre. Sabe, depende de você onde você +está, você é livre para dizer o que pensa. Se você concorda com estas +pessoas, você pode dizer código aberto. Se você concorda conosco, demonstre, +diga libre!

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Software livre e educação

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O ponto mais importante sobre o software livre é que as escolas +devem ensinar software exclusivamente livre. Todos os níveis de +escolas, do jardim de infância à universidade, são sua responsabilidade +moral ensinar apenas software livre em sua educação, e todas as outras +atividades educacionais, incluindo aquelas que dizem que estão disseminando +a alfabetização digital. Muitas dessas atividades ensinam o Windows, o que +significa que elas ensinam dependência. Ensinar às pessoas o uso de +software proprietário é ensinar dependência, e atividades educacionais nunca +devem fazer isso porque é o oposto de sua missão. As atividades educativas +têm uma missão social de educar os bons cidadãos de uma sociedade forte, +capaz, cooperadora, independente e livre. E na área de computação, isso +significa: ensinar software livre; nunca ensine um programa proprietário +porque isso inculca dependência.

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Por que você acha que alguns desenvolvedores proprietários oferecem cópias +gratuitas para as escolas? Eles querem que as escolas tornem as crianças +dependentes. E então, quando se formam, ainda são dependentes e, você sabe, +a empresa não vai oferecer cópias gratuitas. E algumas dessas pessoas +conseguem emprego e vão trabalhar para empresas. Não muitas delas, mas +alguns delas. E essas empresas não receberão cópias gratuitas. Ah não! A +ideia é: se a escola direcionar estudantes para o caminho da dependência +permanente, é possível arrastar o resto da sociedade para a +dependência. Esse é o plano! É como dar agulhas grátis para a escola, cheias +de drogas viciantes, dizendo: “Injete isso nos estudantes, a primeira dose é +gratuita. Uma vez que você é dependente, então você tem que pagar”. Bem, a +escola rejeitaria as drogas porque não é certo ensinar estudantes a usar +drogas viciantes, e tem que rejeitar o software proprietário também.

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Algumas pessoas dizem: “Vamos fazer a escola ensinar software proprietário e +software livre, para que estudantes se familiarizem com os dois”. É como +dizer: “Para o almoço, vamos dar às crianças espinafre e tabaco, para que se +acostumem a ambos”. Não! As escolas só devem ensinar bons hábitos, não os +maus! Portanto, não deve haver Windows em uma escola, nenhum Macintosh, nada +de proprietário na educação.

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Mas também, para o bem da educação dos programadores. Você vê, algumas +pessoas têm talento para programação. Crianças de dez a treze anos, +normalmente, são fascinadas e, se usam um programa, querem saber: “Como isso +acontece?”. Mas quando perguntam ao professor, se é proprietário, o +professor tem que dizer: “Sinto muito, é um segredo, não podemos +descobrir”. O que significa que a educação é proibida. Um programa +proprietário é o inimigo do espírito da educação. Seu conhecimento é retido, +por isso não deve ser tolerado em uma escola, mesmo que haja muitas pessoas +na escola que não se importem com programação, não queiram aprender +isso. Ainda assim, porque é o inimigo do espírito da educação, não deveria +estar lá na escola.

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Mas se o programa for livre, o professor pode explicar o que ele sabe e, em +seguida, distribuir cópias do código-fonte, dizendo: “Leia e você entenderá +tudo.” E aqueles que são realmente fascinados, eles vão ler! E isso lhes dá +a oportunidade de começar a aprender a ser bons programadores.

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Para aprender a ser um bom programador ou uma boa programadora, você +precisará reconhecer que certas formas de escrever código, mesmo que façam +sentido para você e estejam corretas, não são boas porque outras pessoas +terão dificuldade em entendê-las. Bom código é um código claro que as outras +pessoas terão facilidade em trabalhar quando precisarem fazer mais +alterações.

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Como você aprende a escrever um bom código claro? Você faz isso lendo muito +código e escrevendo muito código. Bem, apenas o software livre oferece a +chance de ler o código dos grandes programas que realmente usamos. E então +você tem que escrever muito código, o que significa que você tem que +escrever mudanças em programas grandes.

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Como você aprende a escrever um bom código para os grandes programas? Você +tem que começar pequeno, o que não significa um pequeno programa, +oh não! Os desafios do código para programas grandes nem sequer começam a +aparecer em pequenos programas. Portanto, a maneira como você começa pequeno +ao escrever código para programas grandes é escrevendo pequenas alterações +em programas grandes. E apenas o software livre lhe dá a chance de fazer +isso.

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Então, se uma escola quer oferecer a possibilidade de aprender a ser um bom +programador, ela precisa ser uma escola de software livre.

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Mas há uma razão ainda mais profunda, e isso é em prol da educação moral, +educação em cidadania. Não é suficiente para uma escola ensinar fatos e +habilidades, tem que ensinar o espírito de boa vontade, o hábito de ajudar +os outros. Portanto, cada turma deve ter esta regra: “Estudantes, se você +levar o software para a aula, você não pode guardá-lo por si mesmo, você +deve compartilhar cópias com o resto da turma, incluindo o código-fonte caso +alguém queira aprender. Porque esta aula é um lugar onde compartilhamos +nosso conhecimento. Portanto, não é permitido trazer um programa +proprietário para a classe”. A escola deve seguir sua própria regra para dar +um bom exemplo. Portanto, a escola deve trazer apenas software livre para a +turma e compartilhar cópias, incluindo o código-fonte, com qualquer pessoa +da turma que queira cópias.

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Aqueles de vocês que têm uma conexão com a escola, é o seu dever de fazer +campanha e pressionar a escola a mudar para o software livre. E você tem que +ser firme. Pode levar anos, mas você pode ter sucesso desde que nunca +desista. Continue buscando mais aliados entre estudantes, corpo docente, a +equipe, pais e mães, qualquer um! E sempre apresente a questão como uma +questão ética. Se alguém quiser desviar a discussão para esta vantagem +prática e esta desvantagem prática, o que significa que estão ignorando a +questão mais importante, então você tem que dizer: “Isto não é sobre como +fazer o melhor trabalho de educar, este é sobre como fazer uma boa educação +em vez de uma maldade. É como fazer educação correta em vez de errada, não +apenas como torná-la um pouco mais eficaz, ou menos”. Portanto, não se +distraia com esses problemas secundários e ignore o que realmente importa!

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Serviços da Internet

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Então, passando para a próxima ameaça. Existem dois problemas que surgem do +uso de serviços da Internet. Um deles é que o servidor poderia abusar de +seus dados, e outro é que ele poderia assumir o controle da sua computação.

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A primeira questão, as pessoas já conhecem. Eles estão cientes de que, se +você fizer o upload de dados para um serviço da Internet, +há uma questão sobre o que este fará com esses dados. Pode fazer coisas que +maltratam você. O que poderia fazer? Pode perder os dados, pode alterar os +dados, pode se recusar a permitir que você recupere os dados. E também pode +mostrar os dados para outra pessoa que você não quer mostrar. Quatro +diferentes coisas possíveis.

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Agora, aqui, eu estou falando sobre os dados que você +conscientemente deu para aquele site. Naturalmente, muitos desses +serviços também fazem vigilância.

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Por exemplo, considere o Facebook. Os usuários enviam muitos dados para o +Facebook, e uma das coisas ruins sobre o Facebook é que ele mostra muitos +desses dados para muitas outras pessoas, e até mesmo se lhes oferece um +cenário para dizer “não”, isso pode realmente não funcionar. Afinal, se você +disser “algumas outras pessoas podem ver essa informação”, uma delas pode +publicá-la. Agora, isso não é culpa do Facebook, não há nada que eles possam +fazer para evitar isso, mas deve avisar as pessoas. Em vez de dizer “marque +isto apenas como seus supostos amigos” deveria dizer “tenha em mente que +seus supostos amigos não são realmente seus amigos, e se eles querem causar +problemas para você, eles podem publicar isso”. Toda vez, deveria dizer que, +se eles querem lidar com as pessoas eticamente.

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Assim como todos os usuários de dados do Facebook dão voluntariamente ao +Facebook, o Facebook está coletando dados sobre as atividades das pessoas na +rede através de vários métodos de vigilância. Mas essa é a primeira +ameaça. Por enquanto eu estou falando sobre os dados que as pessoas +sabem que estão dando a esses sites.

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Agora, perder dados é algo que sempre pode acontecer por acaso. Essa +possibilidade está sempre lá, não importa o quão cuidadoso alguém +seja. Portanto, você precisa manter várias cópias de dados importantes. Se +você fizer isso, então, mesmo que alguém decida apagar seus dados +intencionalmente, não vai te machucar muito, porque você teria outras cópias +dele.

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Portanto, enquanto você estiver mantendo várias cópias, não precisará se +preocupar muito com a perda de dados por parte de alguém. E se você pode +recuperá-lo? Bem, alguns serviços tornam possível recuperar todos os dados +que você enviou e outros não. Os serviços do Google permitem que o usuário +recupere os dados que o usuário colocou neles. Facebook, notoriamente, não.

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É claro que, no caso do Google, isso se aplica apenas aos dados que o +usuário sabe que o Google tem. O Google faz muita vigilância +também, e esses dados não estão incluídos. Mas, em qualquer caso, se você +puder recuperar os dados, poderá rastrear se eles foram alterados. E não é +muito provável que eles comecem a alterar os dados das pessoas, se as +pessoas souberem. Então, talvez possamos acompanhar esse tipo específico de +abuso.

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Mas o abuso de mostrar os dados para alguém que você não quer que veja é +muito comum e quase impossível para você evitar, especialmente se for uma +empresa dos EUA. Sabe, a lei com nome mais hipócrita na história dos EUA, o +chamado USA Patriot Act, diz que a polícia do Big Brother pode +coletar praticamente todos os dados que as empresas mantêm sobre os +indivíduos. Não apenas empresas, mas também outras organizações, como +bibliotecas públicas. A polícia pode conseguir isso maciçamente, sem sequer +ir ao tribunal. Agora, em um país que foi fundado em uma ideia de liberdade, +não há nada mais antipatriótico do que isso. Mas isso é o que eles +fizeram. Portanto, você nunca deve confiar seus dados a uma empresa dos +EUA. E eles dizem que as subsidiárias estrangeiras de empresas +norte-americanas também estão sujeitas a isso. Portanto, a empresa com a +qual você está lidando diretamente pode estar na Europa, mas se for de +propriedade de uma empresa dos EUA, você terá o mesmo problema com o qual +lidar.

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No entanto, isso é motivo de preocupação principalmente quando os dados que +você está enviando para o serviço não são para publicação. Existem alguns +serviços onde você publica coisas. Claro, se você publicar algo, você sabe +que todo mundo será capaz de ver. Então, não há como machucá-lo mostrando +para alguém que não deveria vê-lo. Não há ninguém que não deveria ver, se +você publicou. Então, nesse caso, o problema não existe.

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Então, essas são quatro subquestões desta ameaça de abusar de nossos +dados. A ideia do projeto Freedom Box é que você tem seu próprio servidor em +sua própria casa, e quando você quer fazer algo remotamente, você faz isso +com seu próprio servidor, e a polícia tem que obter um mandado para procurar +em seu servidor. Então você tem os mesmos direitos que você teria +tradicionalmente no mundo físico.

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O ponto aqui e em tantas outras questões é: quando começamos a fazer as +coisas digitalmente em vez de fisicamente, não devemos perder nenhum dos +nossos direitos; porque a tendência geral é perdermos direitos.

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Basicamente, a lei de Stallman diz que, em uma época em que os governos +trabalham para as megacorporações, em vez de se reportar aos seus cidadãos, +todas as mudanças tecnológicas podem ser aproveitadas para reduzir nossa +liberdade. Porque reduzir nossa liberdade é o que esses governos querem +fazer. Então a questão é: quando eles têm uma oportunidade? Bem, qualquer +mudança que aconteça por algum outro motivo é uma oportunidade possível, e +eles se aproveitarão disso se for esse o desejo geral deles.

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Mas o outro problema com os serviços da Internet é que eles podem assumir o +controle da sua computação, e isso não é tão comumente conhecido. Mas está +se tornando mais comum. Há serviços que oferecem computação para você em +dados fornecidos por você – coisas que você deve fazer em seu próprio +computador, mas convidam você a deixar o computador de outra pessoa fazer +essa computação funcionar para você. E o resultado é que você perde o +controle sobre isso. É como se você usasse um programa não livre.

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Dois cenários diferentes, mas eles levam ao mesmo problema. Se você faz sua +computação com um programa não livre… bem, os usuários não controlam o +programa não livre, ele controla os usuários, o que inclui você. Então você +perdeu o controle da computação que está sendo feita. Mas se você fizer sua +computação em seu servidor… bem, os programas que estão fazendo são os que +ele escolheu. Você não pode tocá-los ou vê-los, então você não tem controle +sobre eles. Ele tem controle sobre eles, talvez.

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Se eles são software livre e ele os instala, então ele tem controle sobre +eles. Mas mesmo ele pode não ter controle. Ele pode estar executando um +programa proprietário em seu servidor, caso em que é alguém que tem controle +da computação que está sendo feita em seu servidor. Ele não controla isso e +você não.

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Mas suponha que ele instale um programa livre, então ele tem controle sobre +a computação que está sendo feita em seu computador, mas você não faz +isso. Então, de qualquer forma, você não o faz! Assim, a única +maneira de ter controle sobre sua computação é fazê-lo com sua +cópia de um programa livre.

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Esta prática é chamada de “Software como serviço” ou “Software as a +Service”. Isso significa fazer sua computação com seus dados no servidor +de outra pessoa. E eu não sei de nada que possa tornar isso aceitável. É +sempre algo que tira a sua liberdade, e a única solução que conheço é +recusar. Por exemplo, existem servidores que fazem tradução ou +reconhecimento de voz, e você está permitindo que eles tenham controle sobre +essa atividade de computação, o que nunca devemos fazer.

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Claro, nós também estamos dando a eles dados sobre nós mesmos que eles não +deveriam ter. Imagine se você tivesse uma conversa com alguém através de um +sistema de tradução de reconhecimento de voz que fosse “Software como +serviço” e estivesse realmente sendo executado em um servidor pertencente a +alguma empresa. Bem, essa empresa também fica sabendo o que foi dito na +conversa, e se é uma empresa americana, isso significa que o Big Brother +também fica sabendo. Isso não é bom.

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Computadores para votação

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A próxima ameaça à nossa liberdade em uma sociedade digital é usar +computadores para votar. Você não pode confiar em computadores para +votar. Quem controla o software nesses computadores tem o poder de cometer +fraude indetectável.

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As eleições são especiais, porque não há ninguém envolvido que ousemos +confiar plenamente. Todo mundo tem que ser verificado, verificado novamente +por outras pessoas, de modo que ninguém esteja em condições de falsificar os +resultados sozinho. Porque se alguém está em posição de fazer isso, esta +pessoa possivelmente vai fazer isso. Então, nossos sistemas tradicionais de +votação foram projetados para que ninguém fosse totalmente confiável, todos +estavam sendo verificados por outros. Para que ninguém pudesse cometer +fraude facilmente. Mas uma vez que você introduz um programa, isso é +impossível.

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Como você pode saber se uma máquina de votação contará honestamente os +votos? Você teria que estudar o programa que está sendo executado durante a +eleição, o que é claro que ninguém pode fazer, e a maioria das pessoas nem +sabe como fazer. Mas mesmo os especialistas que poderiam, teoricamente, ser +capazes de estudar o programa, não podem fazê-lo enquanto as pessoas +votam. Eles teriam que fazer isso com antecedência, e então como eles sabem +que o programa que estudaram é o que está sendo executado enquanto as +pessoas votam? Talvez tenha sido alterado.

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Agora, se este programa é proprietário, isso significa que alguma empresa o +controla. A autoridade eleitoral não pode sequer dizer o que esse programa +está fazendo. Bem, esta empresa poderia fraudar a eleição. E há acusações de +que isso foi feito nos EUA nos últimos dez anos, que os resultados das +eleições foram falsificados dessa maneira.

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Mas e se o programa for software livre? Isso significa que a autoridade +eleitoral que possui essa máquina de votação tem controle sobre o software, +de modo que a autoridade eleitoral poderia fraudar a eleição. Você não pode +confiar neles também. Você não ousa confiar em ninguém na votação, +e a razão é que não há como os eleitores verificarem por si mesmos que seus +votos foram contados corretamente, nem que os votos falsos não foram +adicionados.

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Em outras atividades da vida, você geralmente pode dizer se alguém está +tentando enganar você. Considere, por exemplo, comprar algo de uma +loja. Você pede algo, talvez dê um número de cartão de crédito. Se o produto +não vier, você pode reclamar e você pode… É claro que, se você tiver uma +memória boa o suficiente, perceberá se esse produto não vier. Você não está +apenas dando total confiança cega para a loja, porque você pode +conferir. Mas nas eleições você não pode verificar.

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Vi uma vez um artigo em que alguém descrevia um sistema teórico de votação +que usava matemática sofisticada para que as pessoas pudessem verificar se +seus votos haviam sido contados, embora o voto de todos fosse secreto e +pudessem também verificar que não haviam sido adicionados votos falsos. Foi +matemática muito emocionante e poderosa; mas mesmo que essa matemática +esteja correta, isso não significa que o sistema seria aceitável para uso na +prática, porque as vulnerabilidades de um sistema real podem estar fora +dessa matemática. Por exemplo, suponha que você esteja votando pela Internet +e suponha que esteja usando uma máquina que é um zumbi. Pode dizer-lhe que a +votação foi enviada para A enquanto realmente envia um voto para B. Será que +você descobriria? Então, na prática, a única maneira de ver se esses +sistemas funcionam e são honestos é através de anos, na verdade décadas, de +experimentá-los e verificar de outras formas o que aconteceu.

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Eu não quero que meu país seja o pioneiro nisso. Então, use papel para +votar. Certifique-se de que existem cédulas que podem ser recontadas.

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Nota do orador, adicionada posteriormente

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Votação remota pela internet tem um perigo social inerente, que seu chefe +pode lhe dizer, “Eu quero que você vote no candidato C, e faça isso do +computador em meu escritório enquanto eu assisto você”. Ele não precisa +dizer em voz alta que você pode ser demitido se não cumprir. Este perigo não +é baseado em uma falha técnica, por isso não pode ser corrigido pela fixação +da tecnologia.

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A guerra contra o compartilhamento

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A próxima ameaça à nossa liberdade em uma sociedade digital vem da guerra +contra o compartilhamento.

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Um dos grandes benefícios da tecnologia digital é que é fácil copiar obras +publicadas e compartilhar essas cópias com outras pessoas. O +compartilhamento é bom e, com a tecnologia digital, o compartilhamento é +fácil. Então, milhões de pessoas compartilham. Aqueles que lucram com poder +sobre a distribuição dessas obras não querem que compartilhemos. E como são +empresas, os governos que traíram seu povo e trabalham para o Império de +mega-corporações tentam servir esses negócios, eles são contra seu próprio +povo, eles são para os negócios, para os editores.

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Bem, isso não é bom. E com a ajuda desses governos, as empresas vêm travando +uma guerra contra o compartilhamento e propuseram uma série de +medidas cruéis e draconianas. Por que eles propõem medidas cruéis e +draconianas? Porque nada mais tem uma chance de sucesso: quando algo é bom e +fácil, as pessoas fazem isso, e a única maneira de detê-las é ser muito +desagradável. Então, é claro, o que eles propõem é desagradável, +desagradável, e o próximo é mais desagradável. Então, eles tentaram +processar adolescentes por centenas de milhares de dólares. Isso foi muito +desagradável. E eles tentaram transformar nossa tecnologia contra nós, +Gestão Digital de Restrições (DRM), ou seja, algemas digitais.

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Mas entre as pessoas também havia programadores inteligentes também, que +encontraram maneiras de quebrar as algemas. Assim, por exemplo, os DVDs +foram projetados para ter filmes criptografados em um formato secreto de +criptografia, e a ideia era que todos os programas para descriptografar o +vídeo seriam proprietários com algemas digitais. Todos eles seriam +projetados para restringir os usuários. E o esquema deles funcionou bem por +um tempo. Mas algumas pessoas na Europa descobriram a criptografia e +lançaram um programa livre que poderia realmente reproduzir o vídeo em um +DVD.

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Bem, as empresas de filmes não deixaram isso para lá. Elas foram ao +congresso americano e compraram uma lei que tornava esse software ilegal. Os +Estados Unidos inventaram a censura de software em 1998, com a Digital Millennium Copyright Act (DMCA). Portanto, a +distribuição desse programa livre foi proibida nos Estados +Unidos. Infelizmente não parou com os Estados Unidos. A União Europeia +adotou uma diretiva, em 2003 salvo engano, exigindo tais leis. A diretriz +diz apenas que a distribuição comercial deve ser proibida, mas quase todos +os países da União Europeia adotaram uma lei mais nefasta. Na França, a mera +posse de uma cópia desse programa é uma ofensa punida com prisão, graças a +Sarkozy. Eu acredito que isso foi feito pela lei DADVSI1. Eu acho que ele esperava +que com um nome impronunciável, as pessoas não seriam capazes de +criticá-lo. [risadas]

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Então, as eleições estão chegando. Pergunte aos candidatos dos partidos: +você vai revogar a DADVSI? E se não, não os apoie. Você não deve desistir do +território moral perdido para sempre. Você tem que lutar para +reconquistá-lo.

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Então, ainda estamos lutando contra as algemas digitais. A Amazon Swindle +tem algemas digitais para tirar as liberdades tradicionais dos leitores para +fazer coisas como: dar um livro a outra pessoa ou emprestar um livro a outra +pessoa. Esse é um ato social de importância vital. É isso que constrói a +sociedade entre as pessoas que leem, emprestam livros. A Amazon não quer +deixar as pessoas emprestarem livros livremente. E depois também está +vendendo um livro, talvez para uma livraria usada. Você não pode fazer isso +também.

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Pareceu por algum tempo que o DRM havia desaparecido na música, mas agora +eles estão trazendo de volta serviços de streaming como o +Spotify. Todos esses serviços exigem software cliente proprietário, e o +motivo é que eles podem colocar algemas digitais nos usuários. Então, +rejeite-os! Eles já mostraram abertamente que você não pode confiar neles, +porque primeiro eles disseram: “Você pode ouvir o quanto quiser”. E então +eles disseram: “Oh, não! Você só pode ouvir um certo número de horas por +mês”. A questão não é se essa mudança em particular foi boa ou ruim, justa +ou injusta; o ponto é que eles têm o poder de impor qualquer mudança nas +políticas. Então, não deixe que eles tenham esse poder. Você deve ter sua +própria cópia de qualquer música que queira ouvir.

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E então veio o próximo ataque à nossa liberdade: HADOPI2, basicamente punição por +acusação. Foi iniciado na França, mas foi exportado para muitos outros +países. Os Estados Unidos agora exigem políticas tão injustas em seus +tratados de exploração livre. Há alguns meses, a Colômbia adotou tal lei sob +ordens de seus mestres em Washington. É claro que os de Washington não são +os verdadeiros mestres, são apenas os que controlam os Estados Unidos em +nome do Império. Mas são eles que também ditam a Colômbia em nome do +Império.

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Na França, uma vez que o Conselho Constitucional se opôs a punir +explicitamente as pessoas sem julgamento, inventaram um tipo de julgamento +que não é real, é apenas uma forma de julgamento, na qual eles possam +fingir que as pessoas têm um julgamento antes de serem punidas. Mas +outros países não se incomodam com isso, aplicando-se punição explícita na +simples acusação. O que significa que, para o bem da guerra contra o +compartilhamento, estão preparados para abolir os princípios básicos da +justiça. Isso mostra quão completamente antiliberdade e antijustiça eles +são. Estes não são governos legítimos.

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E tenho certeza que eles vão ter ideias mais desagradáveis porque são pagos +para derrotar as pessoas, não importa o que for preciso. Agora, quando fazem +isso, sempre dizem que é para o bem de artistas e que eles têm que +“proteger” os “criadores”. Agora esses são ambos termos de propaganda. Estou +convencido de que a razão pela qual eles amam a palavra “criadores” é porque +é uma comparação com uma divindade. Eles querem que pensemos em artistas +como super-humanos, e assim merecendo privilégios especiais e poder sobre +nós, algo com o qual eu discordo.

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Na verdade, os únicos artistas que se beneficiam muito deste sistema são as +grandes estrelas. Os outros artistas estão sendo esmagados pelos pés dessas +mesmas empresas. Mas eles tratam as estrelas muito bem, porque as estrelas +têm muita influência. Se uma estrela ameaça se mudar para outra empresa, a +empresa diz: “Oh, nós vamos dar o que você quer”. Mas para qualquer outro +artista, eles dizem: “Você não importa, podemos tratá-lo como quisermos”.

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Assim, os superstars foram corrompidos pelos milhões de +dólares ou euros que recebem, ao ponto de fazerem quase tudo por mais +dinheiro. Por exemplo, J. K. Rowling é um bom exemplo. J. K. Rowling, há +alguns anos, foi ao tribunal no Canadá e obteve uma ordem para que as +pessoas que compraram seus livros não os lessem. Ela obteve uma ordem +dizendo às pessoas para não lerem seus livros!

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Veja o que aconteceu. Uma livraria colocou os livros em exposição à venda +muito cedo, antes da data em que eles deveriam ser colocados à venda. E as +pessoas entraram na loja e disseram: “Oh, eu quero isso!” E eles compraram e +tiraram suas cópias. E então, eles descobriram o erro, então tiraram as +cópias de vista. Mas Rowling queria esmagar qualquer circulação de qualquer +informação desses livros, então ela foi ao tribunal, e o tribunal ordenou +que aquelas pessoas não lessem os livros que eles agora possuíam.

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Em resposta, peço um boicote total a Harry Potter. Mas eu não digo que você +não deveria ler os livros ou assistir aos filmes, eu só digo que você não +deveria comprar os livros ou pagar pelos filmes. [risadas] Deixo para +Rowling dizer às pessoas para não lerem os livros. Tanto quanto eu estou +preocupado, se você emprestar o livro e lê-lo, tudo bem. [risadas] Só não dê +dinheiro a ela! Mas isso aconteceu com os livros de papel. O tribunal +poderia fazer esse pedido, mas não conseguiu recuperar os livros das pessoas +que os compraram. Imagine se eles fossem ebooks. Imagine se eles fossem +ebooks no Swindle. A Amazon poderia enviar comandos para apagá-los.

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Então, eu não tenho muito respeito por estrelas que vão tão longe por mais +dinheiro. Mas a maioria dos artistas não é assim, eles nunca receberam +dinheiro suficiente para serem corrompidos. Porque o atual sistema de copyright financia muito mal a maioria dos artistas. E assim, +quando essas empresas exigem expandir a guerra contra o compartilhamento, +supostamente pelo bem dos artistas, sou contra o que eles querem, mas eu +gostaria de financiar melhor os artistas. Eu aprecio a obra deles e percebo +que, se quisermos que artistas façam mais obra, devemos financiá-los.

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Financiamento das artes

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Eu tenho duas propostas de como financiar artistas, métodos que são +compatíveis com compartilhamento, que nos permitiriam acabar com a guerra +contra o compartilhamento e ainda financiar artistas.

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Um método usa dinheiro de impostos. Recebemos uma certa quantia de fundos +públicos para distribuir entre os artistas. Mas, quanto deve receber cada +artista? Bem, nós temos que medir popularidade. Você vê, o sistema atual +supostamente financia artistas com base em sua popularidade. Então, eu estou +dizendo: vamos manter isso, vamos continuar neste sistema para apoiá-los com +base em sua popularidade. Podemos medir a popularidade de todos os artistas +com algum tipo de pesquisa ou amostragem, para que não tenhamos que fazer +vigilância. Podemos respeitar o anonimato das pessoas.

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Tudo bem. Temos uma imagem de popularidade para cada artista, como +convertemos isso em uma quantia de dinheiro? Bem, a maneira óbvia é: +distribuir o dinheiro em proporção à popularidade. Então, se A é mil vezes +mais popular que B, A receberá mil vezes mais dinheiro do que B. Isso não é +uma distribuição eficiente do dinheiro. Não está colocando o dinheiro em bom +uso. Você vê, é fácil para uma estrela A ser mil vezes mais popular que um +artista bem-sucedido B. E se usarmos uma proporção linear, daremos a A mil +vezes mais dinheiro do que damos B. E isso significa que ou temos que tornar +A tremendamente rico, ou não estamos apoiando B o suficiente.

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Bem, o dinheiro que usamos para enriquecer é deixar de fazer um trabalho +efetivo de apoio às artes; então, é ineficiente. Por isso eu digo: vamos +usar a raiz cúbica. A raiz cúbica parece mais ou menos assim. O ponto é: se +A é mil vezes mais popular que B, com a raiz cúbica A obterá dez vezes mais +que B, não mil vezes mais, apenas dez vezes mais. Assim, o uso da raiz +cúbica muda muito do dinheiro das estrelas para os artistas de popularidade +moderada. E isso significa que, com menos dinheiro, podemos financiar +adequadamente um número muito maior de artistas.

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Existem duas razões pelas quais este sistema usaria menos dinheiro do que +pagamos agora. Primeiro de tudo, porque estaria financiando artistas, não +empresas, e segundo porque mudaria o dinheiro das estrelas para os artistas +de popularidade moderada. Agora, seria o caso de que quanto mais popular +você é, mais dinheiro você ganha. E assim a estrela A ainda teria mais que +B, mas não astronomicamente mais.

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Esse é um método e, como não será tanto dinheiro, não importa muito como +recebemos o dinheiro. Poderia ser de um imposto especial sobre a +conectividade com a Internet, poderia ser apenas parte do orçamento geral +que é alocado para essa finalidade. Não nos importamos porque não será tanto +dinheiro, muito menos do que estamos pagando agora.

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O outro método que eu propus é o pagamento voluntário. Suponha que cada +reprodutor tenha um botão que você possa usar para enviar um euro. Muita +gente enviaria; Afinal, não é muito dinheiro. Eu acho que muitos de vocês +podem apertar esse botão todos os dias, para dar um euro a algum artista que +fez um trabalho que você gostou. Mas nada exigiria isso, você não precisaria +ser exigido ou ordenado a enviar o dinheiro; você faria isso porque você +sentiria vontade de fazê-lo. Mas há pessoas que não fariam isso porque são +pobres e não podem dar um euro. E é bom que eles não o deem, não precisamos +espremer dinheiro de pessoas pobres para financiar os artistas. Há pessoas +com um mínimo de recurso suficiente que ficarão felizes em fazê-lo. Por que +você não daria um euro a alguns artistas hoje, se você apreciasse o trabalho +deles? É muito inconveniente dar a eles. Então, minha proposta é remover o +inconveniente. Se a única razão para não dar esse euro é que você teria um +euro a menos, você o faria com bastante frequência.

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Então, essas são minhas duas propostas de como financiar artistas, +incentivando o compartilhamento porque compartilhar é bom. Vamos acabar com +a guerra no compartilhamento, leis como DADVSI e HADOPI, +não são apenas os métodos que eles propõem que são maus, seu propósito é o +mal. É por isso que eles propõem medidas cruéis e draconianas. Eles estão +tentando fazer algo desagradável por natureza. Então, vamos financiar +artistas de outras maneiras.

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Direitos no ciberespaço

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A última ameaça à nossa liberdade na sociedade digital é o fato de não +termos um direito firme de fazer as coisas que fazemos no ciberespaço. No +mundo físico, se você tem certas visões e quer dar às pessoas cópias de um +texto que defenda essas visões, você é livre para fazê-lo. Você pode até +comprar uma impressora para imprimi-las, e você é livre para entregá-las na +rua, ou você é livre para alugar uma loja e entregá-las lá. Se você quiser +coletar dinheiro para financiar a sua causa, você pode ter apenas uma lata e +as pessoas poderiam colocar dinheiro na lata. Você não precisa obter +aprovação ou cooperação de outra pessoa para fazer essas coisas.

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Mas, na Internet, você precisa de aprovação. Por exemplo, se quiser +distribuir um texto na Internet, você precisa de empresas para ajudá-lo a +fazer isso. Você não pode fazer isso sozinho. Portanto, se você deseja ter +um site, precisa do apoio de um provedor ou de uma empresa de hospedagem e +precisa de um registrador de nomes de domínio. Você precisa deles para +continuar a deixar você fazer o que você está fazendo. Então, você está +fazendo isso efetivamente no sofrimento, não de direito.

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E se você quiser receber dinheiro, você não pode simplesmente segurar uma +lata. Você precisa da cooperação de uma empresa de pagamento. E vimos que +isso torna todas as nossas atividades digitais vulneráveis à +supressão. Aprendemos isso quando o governo dos Estados Unidos lançou um +“ataque distribuído de negação de serviço” (DDoS) contra o WikiLeaks. Eu estou fazendo uma +brincadeira aqui porque, na verdade, as palavras “ataque distribuído de +negação de serviço” geralmente se referem a um tipo diferente de ataque. Mas +elas se encaixam perfeitamente com o que os Estados Unidos fizeram. Os +Estados Unidos foram para os vários tipos de serviços de rede dos quais o +WikiLeaks dependia e disseram-lhes para interromper o serviço ao +WikiLeaks. E eles fizeram!

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Por exemplo, o WikiLeaks alugou um servidor virtual da Amazon, e o governo +dos EUA disse à Amazon: “Corte o serviço para o WikiLeaks”. E isso +aconteceu, arbitrariamente. E então, a Amazon tinha certos nomes de domínio, +como wikileaks.org. O governo dos EUA tentou desativar todos esses +domínios. Mas não teve sucesso, alguns deles estavam fora de seu controle e +não foram desligados.

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Então, tinha as empresas de pagamento. Os EUA foram até o PayPal e disseram: +“Pare de transferir dinheiro para o WikiLeaks ou dificultaremos a vida para +você”. E o PayPal cortou pagamentos ao WikiLeaks. E então foi para Visa e +Mastercard e fez com que eles encerrassem pagamentos ao WikiLeaks. Outros +começaram a coletar dinheiro em nome do WikiLeaks e suas contas foram +fechadas também. Mas neste caso, talvez algo possa ser feito. Há uma empresa +na Islândia que começou a coletar dinheiro em nome do WikiLeaks, e assim a +Visa e a Mastercard fecharam sua conta; não podia receber dinheiro de seus +clientes também. E agora, esse negócio está processando Visa e Mastercard +aparentemente, sob a lei da União Europeia, porque a Visa e a Mastercard +juntas têm quase um monopólio. Eles não estão autorizados a negar +arbitrariamente o serviço a ninguém.

+ +

Bem, este é um exemplo de como as coisas precisam ser para todos os tipos de +serviços que usamos na Internet. Se você alugou uma loja para distribuir +declarações do que pensa, ou qualquer outro tipo de informação que possa +distribuir legalmente, o locador não poderia expulsá-lo só porque não gostou +do que estava dizendo. Contanto que você continue pagando o aluguel, você +tem o direito de continuar naquela loja por um determinado período de tempo +que você assinou. Então, você tem alguns direitos que você pode impor. E +eles não podiam desligar sua linha telefônica porque a companhia telefônica +não gostou do que você disse, ou porque alguma entidade poderosa não gostou +do que você disse e ameaçou a companhia telefônica. Não! Contanto que você +pague as contas e obedeça a certas regras básicas, elas não podem desligar +sua linha telefônica. É assim que é ter alguns direitos!

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Bem, se mudarmos nossas atividades do mundo físico para o mundo virtual, +então temos os mesmos direitos no mundo virtual ou fomos +prejudicados. Portanto, a precariedade de todas as nossas atividades na +Internet é a última das ameaças que queria mencionar.

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Agora eu gostaria de dizer que para mais informações sobre software livre, +veja o gnu.org. Veja também fsf.org, que é o site da Free Software +Foundation. Você pode ir lá e encontrar muitas maneiras de nos ajudar, por +exemplo. Você também pode se tornar um membro da Free Software Foundation +através desse site. […] Há também a Free Software Foundation Europe +fsfe.org. Você também pode participar da FSF Europa. […]

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Notas de rodapé

+ +
    +
  1. Desde 2017, as patentes sobre a reprodução de arquivos MP3 já expiraram.
  2. +
+ +
+ + +Nota do tradutor: +
    +
  1. + +DADVSI é a abreviação do nome da lei francesa sobre “Droit d'Auteur et Droits Voisins Dans la Société de +L'Information” que significa, em português, “direitos autorais e +direitos relacionados na sociedade informacional”. +

  2. +
  3. + +HADDOP é a abreviação do nome da lei francesa “Haute +autorité pour la diffusion des œuvres et la protection des droits sur +Internet”, que significa, em português, “Autoridade Suprema para +Distribuição e Proteção da Propriedade Intelectual na Internet”. +

  4. +
+ + + + + + + + + -- cgit v1.2.3